Quem ainda aguenta se relacionar por apps?

De quem (ou o quê) você tem medo? 

| foto: pixabay


Uma das decisões mais importantes para me relacionar de forma mais saudável se firmou quando parei de classificar as pessoas em categorias e caixinhas, inconscientemente, como se a vida real fosse um app de relacionamento.

Se eu tiver que diminuir o que sinto para caber no espaço finito que o outro está impondo numa relação, jamais estarei feliz nela e jamais poderei sentir qualquer sentimento verdadeiro. Não me envolvo com ninguém pensando que a relação será finita. Não penso que ela tem um prazo para começar e terminar, não limito o avanço das relações por medo do que pode acontecer. Não ter medo de viver e sentir as relações, os sentimentos, não faz de mim alguém que acredita que tudo é para sempre, mas sim alguém que não tenta adivinhar o futuro e que acredita que tudo pode ser verdadeiro e real, se houver conexão e envolvimento. A grande questão é: as pessoas têm dado esse tempo de conexão ou elas se descartam pouco tempo depois por diferentes motivos e bloqueios?

Acredito que nessa era que estamos, em que nossos relacionamentos começam a partir de apps, filtros, imagens e redes sociais, a gente criou inconscientemente bloqueios para espontaneidade. Colocamos as pessoas em categorias prontas, tal qual um app: essa é para beijar, essa é para sexo, essa para namorar e essa para casar. Tudo baseado em imagens e impressões de um perfil criado pela própria pessoa e por nossas expectativas. Só que o que a gente não entende é que a vida real é muito mais imprecisa e dinâmica do que essa categorização, e que as pessoas podem nos surpreender. Mas permitimos o extraordinário acontecer? Você conhece o quê das últimas pessoas com quem se relacionou e o quê elas sabem sobre você? 

A gente cria na nossa mente a limitação de que determinada pessoa (ou corpos, para alguns) só servem para um fim e sequer conseguimos ultrapassar a limitação que criamos para conhecer outras faces desta pessoa. Não conseguimos desenvolver relações verdadeiras, porque achamos que o algoritmo da vida vai nos entregar a pessoa 100% perfeita e isso será visível logo no primeiro contato, para nem perder tempo conhecendo. Fazer uma omelete sem quebrar os ovos, pesquisar.

O que não entendemos, talvez, é que essa percentagem de perfeição para se viver uma relação só se descobre e se alcança no caminho. Isso é algo que perdemos totalmente, quando limitamos as pessoas ao que acreditamos que elas podem nos servir. Relacionamento tem a ver com espontaneidade, conexão e envolvimento. Se a gente se fecha para algum destes itens, dificilmente avançamos.

Que mania que hoje as pessoas têm de tentar esquematizar tudo para não se machucar, para não se envolver. Quanto medo de sentir, se mostrar vulnerável. É um jogo de quem vai sair menos ferido, por nutrirem modelos de relações naturalmente já falidas. É um jogo de egos para que ninguém se sinta humilhado no final de qualquer encontro. Cada vez mais acredito que não temer se envolver é também saber amar. E hoje você sabe amar? Já se perguntou?

Não importa por quanto tempo dure, pode ser só um verão ou grande parte da vida. Aprecie, se entregue, deixe que algo aconteça e se envolva sem temer o amanhã. Porque o amanhã é sempre uma nova chance de ser melhor do que o ontem e o hoje. O amanhã é o que você pode construir, diferentemente do ontem que já passou e é só uma memória. 

Portanto, essa fadiga que você sente ao se relacionar pelos apps e redes sociais pode ter muito a ver sobre o seu ideal de relacionamento, baseado puramente nesse modelo que você se acostumou. Talvez seja preciso ressignificar toda sua concepção de relações para criar conexões verdadeiras e duradouras. Assim como perder o medo e abraçar as próprias vulnerabilidades. A grande questão é: você está disposto (a)?

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