A chave, as portas e o medo de arriscar abrir uma delas
O que o: 'não estou pronto pra me relacionar com você agora' quer te dizer?
Há uma verdade que a gente demora pra aceitar: é difícil encontrar alguém que nos faça perder o medo. Alguém que nos faça querer arriscar, bagunçar a ordem das coisas, pular etapas, desafiar feridas antigas e cicatrizadas. Alguém que, mesmo sem querer, nos convida a simplesmente ir.
Quando encontramos essa pessoa que desmonta o que parecia tão sólido, as previsibilidades, as coisas mudam de tom. E talvez por isso o passo seguinte assuste tanto: porque, apesar do medo, ele é bom, ele cutuca algo de dentro da gente.
Outro dia eu pensava sobre essa sensação de não estar pronto pra um relacionamento. É como se cada novo encontro fosse uma porta desconhecida demais pra atravessar. A gente já tem até o roteiro pronto da desculpa:
— Ah, eu não estou pronto pra me envolver agora, não é nada pessoal, você é incrível.
É uma saída de emergência, cômoda e socialmente aceita. E embora tenha lá seu fundo de verdade, também esconde algo mais.
Essa justificativa costuma colar. Não com supercola, mas com aquela cola bastão meio aguada. As pessoas aceitam, embora fiquem com o pé atrás. Mas aí vem o plot twist: pouco tempo depois, você aparece namorando outra pessoa. E quem ficou pra trás entra em parafuso, tentando entender o que fez de errado. Afinal, o preparo não surgiu do nada, surgiu? O que mudou entre as semanas do fim?
Talvez o que mudou não tenha sido o momento, mas a pessoa. Ou melhor: a sensação de segurança que ela trouxe. Porque, muitas vezes, quando dizemos “não estou pronto”, o que queremos dizer é:
— Com você, eu não me senti à vontade o suficiente pra arriscar.
E isso ninguém diz em voz alta. Fica subentendido, mascarado pela justificativa aceita.
Toda relação é um risco. Um salto no escuro. Às vezes, a gente salta sem pensar; outras, paralisa diante da borda. E mesmo quando não parece, todo envolvimento leva um pedacinho da gente com ele.
Claro, há momentos em que realmente não estamos prontos: estamos vivendo um luto, encerrando ciclos, tentando nos entender nos labirintos do coração. Mas, em outras vezes, o que nos falta não é preparo, e sim a faísca que nos impulsiona a girar a chave.
A verdade é que quase nunca estamos 100% prontos pra começar uma relação com alguém novo. Mesmo tendo vivido muito, mesmo com experiências diversas e mesmo com a terapia em dia. O novo assusta, pasme: porque ele é novo. Ainda assim, a gente segue. Porque às vezes alguém aparece e bagunça só o suficiente pra fazer a gente tentar de novo.
E aí vem a parte mais difícil de dizer: talvez a pessoa que ficou pra trás não tenha despertado esse impulso. Não porque era ruim, incompleta, insuficiente. Mas porque não era a porta certa pra sua chave.
Isso não é culpa de ninguém. Nem dela, nem sua. É só a constatação de que algumas conexões não rompem o medo. Outras, sim.
(PS: Isso não vale pra rejeições por conveniência, ou por puro critério estético. Aí é outra conversa.)
É como estar num corredor cheio de portas. Você segura uma chave que parece encaixar em muitas delas, mas só gira por completo e faz o clique naquela que a conexão não foi só física e puramente emocional, ela transcendeu alguma barreira que escapou dos seus algoritmos de defesa e te encorajou a seguir. E o que dizer pra quem estava atrás da porta certa, mas com o encaixe errado? O que faltou: era sobre o outro ou sobre você?
A gente vai ficando velho e aprende sozinho, que não é qualquer um que faz a gente querer girar a chave. A maturidade nos ensina a conter sentimentos bons por medo, por cautela, por cansaço. Parece até errado sentir com intensidade depois de tanto tropeço. Parece crime sonhar alto com o coração cheio de band-aids.
No fim, o que a gente aprende é a se adaptar ao risco da perda. E, mais do que isso, a perder o medo de tentar, quando vale a pena tentar. Porque o risco só se torna salto quando algo dentro da gente sussurra que vale. E isso não é sobre a outra pessoa. É sobre o que você sente. Quando o sentimento certo chega, mesmo com medo, você vai. E vai de verdade.
Claro, entender isso nem sempre é simples. Pode doer. Pode vir com idas e vindas, encontros e desencontros. Mas quando a gente entende, a gente se move.
E quando aprendemos a ter um coração aberto, mesmo com band-aid, a gente aprende não só a sobreviver… mas a viver.
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| foto: óticacotidiana foto gerada com IA |
Há uma verdade que a gente demora pra aceitar: é difícil encontrar alguém que nos faça perder o medo. Alguém que nos faça querer arriscar, bagunçar a ordem das coisas, pular etapas, desafiar feridas antigas e cicatrizadas. Alguém que, mesmo sem querer, nos convida a simplesmente ir.
Quando encontramos essa pessoa que desmonta o que parecia tão sólido, as previsibilidades, as coisas mudam de tom. E talvez por isso o passo seguinte assuste tanto: porque, apesar do medo, ele é bom, ele cutuca algo de dentro da gente.
Outro dia eu pensava sobre essa sensação de não estar pronto pra um relacionamento. É como se cada novo encontro fosse uma porta desconhecida demais pra atravessar. A gente já tem até o roteiro pronto da desculpa:
— Ah, eu não estou pronto pra me envolver agora, não é nada pessoal, você é incrível.
É uma saída de emergência, cômoda e socialmente aceita. E embora tenha lá seu fundo de verdade, também esconde algo mais.
Essa justificativa costuma colar. Não com supercola, mas com aquela cola bastão meio aguada. As pessoas aceitam, embora fiquem com o pé atrás. Mas aí vem o plot twist: pouco tempo depois, você aparece namorando outra pessoa. E quem ficou pra trás entra em parafuso, tentando entender o que fez de errado. Afinal, o preparo não surgiu do nada, surgiu? O que mudou entre as semanas do fim?
Talvez o que mudou não tenha sido o momento, mas a pessoa. Ou melhor: a sensação de segurança que ela trouxe. Porque, muitas vezes, quando dizemos “não estou pronto”, o que queremos dizer é:
— Com você, eu não me senti à vontade o suficiente pra arriscar.
E isso ninguém diz em voz alta. Fica subentendido, mascarado pela justificativa aceita.
Toda relação é um risco. Um salto no escuro. Às vezes, a gente salta sem pensar; outras, paralisa diante da borda. E mesmo quando não parece, todo envolvimento leva um pedacinho da gente com ele.
Claro, há momentos em que realmente não estamos prontos: estamos vivendo um luto, encerrando ciclos, tentando nos entender nos labirintos do coração. Mas, em outras vezes, o que nos falta não é preparo, e sim a faísca que nos impulsiona a girar a chave.
A verdade é que quase nunca estamos 100% prontos pra começar uma relação com alguém novo. Mesmo tendo vivido muito, mesmo com experiências diversas e mesmo com a terapia em dia. O novo assusta, pasme: porque ele é novo. Ainda assim, a gente segue. Porque às vezes alguém aparece e bagunça só o suficiente pra fazer a gente tentar de novo.
E aí vem a parte mais difícil de dizer: talvez a pessoa que ficou pra trás não tenha despertado esse impulso. Não porque era ruim, incompleta, insuficiente. Mas porque não era a porta certa pra sua chave.
Isso não é culpa de ninguém. Nem dela, nem sua. É só a constatação de que algumas conexões não rompem o medo. Outras, sim.
(PS: Isso não vale pra rejeições por conveniência, ou por puro critério estético. Aí é outra conversa.)
É como estar num corredor cheio de portas. Você segura uma chave que parece encaixar em muitas delas, mas só gira por completo e faz o clique naquela que a conexão não foi só física e puramente emocional, ela transcendeu alguma barreira que escapou dos seus algoritmos de defesa e te encorajou a seguir. E o que dizer pra quem estava atrás da porta certa, mas com o encaixe errado? O que faltou: era sobre o outro ou sobre você?
A gente vai ficando velho e aprende sozinho, que não é qualquer um que faz a gente querer girar a chave. A maturidade nos ensina a conter sentimentos bons por medo, por cautela, por cansaço. Parece até errado sentir com intensidade depois de tanto tropeço. Parece crime sonhar alto com o coração cheio de band-aids.
No fim, o que a gente aprende é a se adaptar ao risco da perda. E, mais do que isso, a perder o medo de tentar, quando vale a pena tentar. Porque o risco só se torna salto quando algo dentro da gente sussurra que vale. E isso não é sobre a outra pessoa. É sobre o que você sente. Quando o sentimento certo chega, mesmo com medo, você vai. E vai de verdade.
Claro, entender isso nem sempre é simples. Pode doer. Pode vir com idas e vindas, encontros e desencontros. Mas quando a gente entende, a gente se move.
E quando aprendemos a ter um coração aberto, mesmo com band-aid, a gente aprende não só a sobreviver… mas a viver.
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Em Mar Negro, nada é o que parece. Um suspense intenso, com reviravoltas de tirar o fôlego e um final que vai mexer com você por dias.
Se você gosta de histórias que te viram do avesso, essa é pra você.