Intervalos

| foto: oticacotidiana


Às vezes, a gente se vê preso a algo. Não por querer, mas por sentir que existiu — e ainda existe — verdade. Presos a uma lembrança, a uma pessoa, a uma história que não terminou direito e que talvez nem tenha começado no tempo linear que conhecemos, mas naquele que escapa à lógica e vive em nossas aflições internas. E, nesses momentos, tudo parece exigir uma ação imediata: mandar uma mensagem, buscar uma explicação, tentar de novo. Mas… e se a resposta não for fazer, e sim soltar?

Soltar.

Essa palavra que parece sinônimo de desistência, de se tornar passivo diante do próprio destino, de perder o protagonismo do que se sente e se quer sentir. Contudo, na verdade, pode ser o maior ato de confiança e de profunda reconexão com algum pedaço perdido, desacreditado e exausto das mudanças e dos pedidos de recomeço que a vida impõe a toda hora.

Há encontros que nos atravessam de um jeito diferente. Gente que aparece do nada, mas que, por alguma razão misteriosa, escapa para dentro, a ponto de parecer já ter existido em nós há muito tempo. A conexão acontece. Fluida, intensa, bonita, com doses de verdade. Mas depois… o silêncio. A dúvida. A distância. Os jogos e as inseguranças. E aí a gente não sabe o que fazer com tudo aquilo que ficou. Tampouco conseguimos entender o que de fato existiu, a ponto de justificar a vontade de ficar.

A conexão continua viva, mas perde a forma: talvez por isso permaneça tanto. Passa a viver como um fantasma, daqueles que sussurram “e se?” no meio da noite, durante um passeio banal por um lugar que guarda fragmentos da história vivida. Quereres ocultos, vontades mal resolvidas, desejos que ainda não se conformaram com um fim sem solidez. Ou com uma pausa.

Há algo mágico e reconfortante, talvez: se o universo foi tão caprichoso a ponto de cruzar dois caminhos, ele também pode ser sábio o bastante para fazê-los se reencontrarem. Ou, quem sabe, mostrar novos caminhos ainda mais incríveis. Às vezes, o que parece fim é só um intervalo.

O difícil é conter a ansiedade. Domar aquela vontade de mexer nos fios do destino com as próprias mãos. Mesmo que isso possa provocar um curto-circuito. Não é fácil não mandar uma mensagem. Não é fácil resistir à tentação de procurar, de forçar um novo começo. A gente quer respostas. Quer controle. Quer viver tudo agora, porque esperar dói, traz angústias e libera vazios que são fortes demais para ignorar. Mas a vida… ela não liga para o que você sente. Não se importa com o quanto você confiou ou acredita estar pronto para viver isso agora. Ela não gosta muito de pressa, de afobação. Tem uma inteligência que poucos de nós conseguimos ler.

Talvez a grande lição esteja aí: confiar. Confiar de verdade. Sem expectativa de milagre, sem cronômetro. Sem rolar as notificações esperando por respostas. Só confiar. Porque o que é nosso, de verdade, ninguém tira. É um clichê verdadeiro. O que é real, não se apaga. O que é verdadeiro… não desaparece.

Às vezes, tudo o que a gente precisa é dar um passo para trás e deixar o tempo fazer o que ele faz de melhor: aprumar, te equilibrar. Preparar você, e esse outro alguém ou desejo, para o momento ideal.

Não será o momento perfeito, com trombetas altas e olhares cinematográficos. Só vai haver um quentinho no coração, uma verdade surpreendentemente leve e simples. Com verdade, com beleza, com amor e entrega. No fim das contas, é só isso: uma questão de momento e de paciência para lidar com os intervalos.

Mas e se o intervalo virar eternidade?

Não é fracasso. É o silêncio entre duas músicas diferentes. Você só precisa parar de repetir o que já acabou. Seguir em frente: mesmo sem ter lido a última página da história, mesmo sem ver a lápide do corpo ou afeto ausente, mesmo com as dores e culpas das incertezas sobre se o que sentiu foi real o suficiente para ter permanecido por tanto tempo.

Lidar com intervalos é lidar com improvisos da vida. Com reações que vêm de dentro, de lugares inimagináveis e até inexplorados, mas que ferem por parecerem definitivas. A notícia boa é que, mesmo as dores que se disfarçam de eternas, numa segunda-feira qualquer, desaparecem sem justificar nada para o seu coração.

👀 Já ouviu falar de Mar Negro?

Em Mar Negro, nada é o que parece. Um suspense intenso, com reviravoltas de tirar o fôlego e um final que vai mexer com você por dias.

Se você gosta de histórias que te viram do avesso, essa é pra você.

👉 Ler agora

Não pare agora... Veja os textos mais lidos!