Era uma vez...

o sinal está vermelho, mas não há motivos para esperar| foto: oticacotidiana

Quantas vezes ficamos parados, esperando por um sinal claro da vida? Algo que diga: agora sim. Agora é hora de terminar aquele namoro ou relação infeliz. De pedir demissão e se arriscar em algo novo. De viajar sozinho e aprender a dar valor à própria companhia. De mudar o corte de cabelo ou, quem sabe, tudo o que você é, por dentro e por fora.

A gente espera esse momento como quem espera um milagre. Como se, de repente, alguma força externa fosse nos empurrar na direção certa. Procuramos no horóscopo, no tarô, na opinião dos amigos, nos lugares e situações que parecem sinais, mas são só banalidades. Mas, no fundo, talvez já saibamos: esse sinal não vai surgir do nada. Não vem com glitter, nem com trilha sonora de trend do TikTok.

Se vier, vem de dentro. E nem sempre na hora que a gente quer. Nem do jeito que a gente espera. A gente se acha sobrevivente — e de fato somos nesse mundo complexo, violento e opressor para a maioria de nós — e por isso começamos a acreditar que tudo precisa ser óbvio, previsível e sem margem para o erro. Como se fosse necessário um outdoor gritando bem na nossa frente para a gente se mover. E nesse movimento tão esperado, ainda assim, acreditamos que precisa doer, precisa ter um brilho de superação, tal qual o fim de uma luta em que o adversário era mil vezes mais esperto e mais forte. Mas, na maioria das vezes, não tem isso. Não tem estalo cinematográfico, não vai ter documentário sobre você na Netflix.

O que tem é silêncio. É incômodo. É uma sensação sutil e insistente o bastante para te dizer que algo ali não encaixa mais. Você engole seco a vontade de mudar. Faz cara de ‘tudo certo’ e continua. Afinal, ter dilemas emocionais no mundo dos adultos parece coisa de gente mimada, que não sabe viver a vida com força e sede de conquista. Enquanto isso, o desconforto vai crescendo.

A gente também fantasia reviravoltas a partir de pontos muito específicos: “Quando eu conseguir aquilo, aí sim…”, “quando tal coisa acontecer, eu vou ser outra pessoa”. Mas e se não for assim? E se a mudança não vier com alarde? E se ela já estiver começando agora no meio da confusão?

Transformação é travessia, quase sempre feita de construção. Tijolo por tijolo. Erro por erro. Conversa por conversa. É aquele dia aparentemente qualquer, em que você decide mandar uma mensagem importante. Ou resolve entregar uma carta de demissão sem fazer ameaças. Ou abre um novo arquivo no computador e começa, sem grande expectativa, aquele projeto que estava adiado há anos.
 
um novo dia é sempre uma nova oportunidade | foto: oticacotidiana

Talvez esses sejam os verdadeiros marcos. Pequenos, quase invisíveis, fáceis de esquecer se a gente não estiver atento. O problema de esperar por algo enorme é que, enquanto espera, a gente vai ficando. Vai se apagando. Vai se acostumando com os ‘quase’ qualquer coisa que aparece. Vai aceitando menos do que sente que poderia por temer ficar para trás na comparação com os outros. Contudo, quando for a hora de olhar para trás — meses, às vezes anos depois — talvez você perceba que o tal sinal nunca veio. Ou que talvez ele estivesse ali o tempo todo, mas ninguém além de você podia ver.

O namorado talvez não vá terminar. A empresa talvez nunca diga que você merece mais. E a vida, coitada, não vai bater na sua porta oferecendo um novo caminho. Às vezes, tudo que existe é uma chance meio torta de tentar diferente. Um passo pequeno, inseguro. Um medo que não paralisa, mas acompanha.

E sim, dá medo. Medo de errar. De parecer impulsivo. De se arrepender. De que os outros nos julguem menores. De perdermos oportunidades por termos tentado e seguido o próprio coração. A gente quer tanto acertar que esquece: errar também faz parte. Às vezes, é no tropeço que a vida começa a fazer sentido, que se criam caminhos para a tão sonhada plenitude. E, só pra constar: plenitude não é a paz celestial prometida em panfleto de igreja. Às vezes, é só a sensação de estar um pouco mais perto de si mesmo.

No fim, não tem fórmula. Não tem manual. Tem você. Com suas dúvidas. Suas escolhas. E, quem sabe, a coragem de seguir mesmo sem ter certeza de nada.

Daqui a um tempo, talvez você se lembre de uma conversa. De um clique. De um e-mail. E perceba que foi ali, no meio do medo, da incerteza, do nada épico, que as coisas começaram a mudar.

Não precisa esperar por grandes marcos. Às vezes, o grande marco é só isso: você, agora, tentando dar um passo. Tentando encontrar a si mesmo em meio à própria indefinição.

   

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