A arte de não se explicar
Já tentei salvar relacionamento com textão. Resultado: um vácuo, três curtidas e uma crise de autoestima. Aprendi na marra que insistência demais não amolece ninguém: só endurece a gente
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a arte de não se explicar envolve não dar satisfações online| foto: oticacotidiana |
Por que será que a gente demora tanto para entender que forçar as coisas não resolve absolutamente nada? Quanto mais a gente força, mais aquilo que queremos parece se afastar. Relações, trabalhos, projetos... pouco importa o quê. Quando a gente força, não só não funciona, como também nos esgota.
Curioso, porque a sociedade prega que quanto mais você se esforçar, mais digno se torna de receber o que deseja. Mas e se isso for uma mentira bem contada, daquelas que a gente escuta tanto que passa a acreditar? A tal romantização do sofrimento em troca de uma alienação baseada na falta de autoconhecimento.
Imagina que você está numa relação... amizade, romance ou qualquer laço afetivo. Você insiste, puxa encontros, estica conversas, tenta fazer com que a pessoa enxergue seu valor, como se o afeto só precisasse ser acionado e sua insistência fosse o que faltava. Gênio! Mas não é assim que acontece. Pelo contrário: quanto mais você força, mais ativa reações estranhas, imprevisíveis; você acorda na pessoa um desconforto que não sabe nomear e só afasta. E você, de fora, só assiste ao laço se desfazer com a mão no peito, tentando segurar o que não quer mais ser segurado.
Aí vem o pior: além da frustração de não conseguir o que queria, vem o cansaço e culpa por ter tentado demais. Uma exaustão que transborda da alma por fora, nas suas ações e na ansiedade por mudança. É raro, mas acontece muito, né?
Isso vale para tudo. Vale para o trabalho que você detesta, mas persiste por medo de buscar algo novo. Vale para aquele ambiente ou grupo social tóxico onde você nunca coube direito, mas insiste em se espremer para caber. Muitas vezes, você nem quer estar ali. Só quer provar — para si mesmo, para alguém, para um espelho do passado — que é capaz, que merece, que também pode. Mas essa batalha, na verdade, é uma armadilha bem armada.
Tem gente que quer que alguém volte — se possível, rastejando com flores e chocolates — não porque ainda ama, mas porque acha que, se o outro voltar, vai validar cada esforço feito para segurar uma história que já se despedia. Como se o retorno fosse um troféu a ser conquistado com o rótulo dizendo: “você é digno, tem valor e qualquer pessoa deveria ver isso”.
E no meio disso tudo, vem o palco digital: stories, feeds e sorrisos filtrados. Encenamos e publicamos uma alegria fake num story para parecer que está tudo bem, que somos incríveis. Estar bem é quase uma obrigação social, principalmente se você precisa produzir. Nisso, a gente cai no erro de mostrar uma vida cujos brilhos e saturações foram aumentados para parecer mais viva. E você faz isso para seguidores que nem se importam. Por quê? Porque ainda acredita, lá no fundo, que a validação do outro tem o poder de curar suas dúvidas, seus vazios.
Mas quanto mais a gente busca o olhar do outro como espelho, mais a gente se frustra. O outro, muitas vezes, está preocupado demais com os próprios ruídos para escutar os nossos. Não acredita? Olha você aí agora preocupando-se mais com suas dores e ansiedades do que as dores dos seus seguidores que você viu o story mais cedo.
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sem curtida, sem relevância? | foto: oticacotidiana |
Outro dia, um amigo me contou que apagou uma foto do Instagram porque teve poucas curtidas. Rimos meio sem jeito, com uma tensão ao fundo, porque eu entendi na hora: aquela validação ainda era o oxigênio dele. Eu também já fui assim e talvez você ainda seja, porque demora um tempo até entender que algumas aprovações não mudam a sua própria verdade.
A gente se engana achando que, se fizermos tudo com verdade, o mundo vai responder com a mesma medida. Mas o que nasce de dentro não é garantia de colheita do lado de fora.
Dependendo da sua história, isso tudo pesa mais ainda. Muita gente cresceu em ambientes excludentes em que precisava provar o tempo todo que merecia estar ali, ser amado, ser ouvido. Aí a vida vira esse eterno palco, onde a gente tem que performar força, coragem, competência — tudo pra ser validado. Mas viver assim cansa. E pior: nos afasta de quem somos de verdade.
A real é que a gente tem dificuldade de conviver com o próprio silêncio. De aceitar que o que importa não é o que o outro enxerga, mas o que a gente sente quando tudo se cala à noite, no travesseiro. Uma paz que não é superestimada, dessas do TikTok, mas uma paz real, de dentro, talvez com marcas e cicatrizes.
Curiosamente, quando você para de forçar, o que sobra é leveza. E leveza não é desistência. Leveza é o oposto do forçar. Quando você solta, enxerga melhor. As coisas fluem, porque a espontaneidade abre portas que a insistência fecha. A chave pode estar aí: em libertar-se.
Libertar-se da obrigação de provar, da obsessão de vencer batalhas invisíveis. Buscar a leveza de simplesmente ser. Aceitar-se. Deixar de procurar fórmulas mágicas pra curar feridas antigas e, em vez disso, tentar o equilíbrio que nasce devagar.
Olhar pra dentro é difícil. Fomos ensinados a buscar respostas fora: em gurus, moldes, manuais. Mas um dia, de tanto sofrer à toa, a gente se esgota. E aí vem o vazio. O bom vazio. Aquele onde cabe o que é seu de verdade.
Eu, por exemplo, aprendi nos altos e baixos. Vivi fases em que tudo era pra mostrar pro mundo. Até que um dia entendi, num misto de exaustão e lucidez: não preciso provar nada pra ninguém. Nem preciso dizer que eu existo. E isso muda tudo. Porque, se você acostuma seu valor a vir do olhar do outro, nunca encontra paz. Nunca. É como matar a sede com água salgada.
Leveza não é deixar de querer. É querer sem se ferir por isso. É seguir com vontade, mas sem amarras que oprimem. Quanto mais leve a gente consegue ser, mais entende que não precisa forçar absolutamente nada. Nem pra se provar, nem pra encontrar o próprio valor. E, menos ainda... pra continuar segurando portas que já se fecharam faz tempo, só porque a gente não quer admitir que a chave nunca foi nossa.
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