Elevadores do coração

| foto: oticacotidiana feito com IA

 
A novidade espreita logo ali, do outro lado da rua, quando ousamos atravessar e nos deparamos com alguém desconhecido. Este, com um ar de mistério e um irresistível charme pelo que pode revelar e compartilhar, nos envolve nas mais sutis tramas de uma paixão incipiente. Nos apaixonamos pela ideia do que podemos construir e dividir com esse desconhecido, ainda que o conheçamos tão pouco. Cada palavra dita, em uma perfeita unidade de sentido, cada olhar e toque é como uma viagem pelos altos andares de um elevador que sobe rápido, com leveza e uma promessa de segurança e eternidade.

A doçura da novidade tem seus encantos, nos faz baixar a guarda e esquecer nossos traumas passados. A novidade está ali. Nossos olhos brilham diante das infinitas possibilidades de conexão com alguém que parece tão próximo do que sonhamos e acreditamos merecer. Contudo, como um raio repentino semeando pânico, o passeio por esse universo desconhecido que parecia firme, feliz e promissor se desfaz.

No abandono repentino, é como se o elevador do nosso coração decidisse despencar em queda livre rumo ao abismo da solidão, da dor insuportável que assusta, aprisiona e nos fecha para outros desconhecidos. Nossos sentidos se inflamam, os pensamentos entram em curto-circuito, revisitando cada um daqueles momentos, cada risada compartilhada, cada abraço, beijo, toque e planos sussurrados e idealizados em um encontro. Ficamos ali, presos entre o que fizemos e o que poderíamos ter feito, entre o que sentimos e o que tivemos medo de sentir. No entanto, em uma reviravolta, o elevador que se lançava ao abismo, de repente, para. Um solavanco faz as lágrimas cessarem, no exato instante em que o elevador interrompe sua viagem ao poço e se reequilibra.

Na interrupção abrupta da descida, a alma se sacode em sobressalto, e a vida ressurge em meio ao caos, em meio ao gosto amargo da rejeição e da solidão. Percebemos que tudo passa e que tudo é apenas uma experiência. Nesse espaço entre a queda e a estabilidade, entre o desejo e a frustração, há uma revelação: as travas de segurança que nos sustentam não são meras invenções do acaso. Elas residem em nós, nas profundezas da alma, alimentadas pela esperança e pela força que, muitas vezes, desconhecemos.

É nesse retorno à superfície que o segredo se revela. O susto do abandono não precisa, nem deve, se infiltrar em nossos olhos; não deve ofuscar a luz que habita em nosso interior. Não deve nos amargurar nem nos fazer crer que não somos merecedores de afeto, carinho e amor. Porque a vida, em suas reviravoltas que assustam e nos fazem sentir como se tudo fosse o fim, traz também possibilidades de novos encontros, de novas conexões e formas de experimentar o amor. Talvez você tenha apenas pegado uma rua errada, mas há tantas outras para que chegue ao seu destino.


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