Descobri o que há no coração do outro, e agora?

Quando se aceita uma situação nos tornamos mais fortes e sábios ou fracos porque no fundo nos conformamos?

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Quanto tempo demora para reconhecer e aceitar o que não há no coração do outro?
Estou aqui no meu canto, quietinho, porque estou tentando me curar. Os nossos processos de cura, muitas vezes, são silenciosos para o mundo exterior e, no interior, no nosso eu mais íntimo, tudo é completamente tumultuante, com a agonia de palavras, sentimentos e sensações. Esse estado nos paralisa. No auge desse turbilhão é que então as pessoas enfim nos perguntam se está tudo bem. E tem como estar ou simular?

No interior do meu eu, uma janela se abre diante dos meus olhos e alcança o meu coração. Desta janela, observo o que não aconteceu e ficou aprisionado só no plano dos sonhos. Do lado de fora, sozinho ou não, lágrimas caem insistentemente e tentam se secar sozinhas, em meio a dor no coração e enquanto se tenta simular uma normalidade que já não é possível existir.
Constatei o que há no coração do outro e estou aceitando. Não há nada que eu possa fazer para mudar. O outro não é vilão por não corresponder às minhas expectativas e eu não sou mocinho por ter deixado me levar pelos meus próprios sentimentos. Aconteceu. Sentir é parte dessa experiência de se envolver com o outro e a nossa maior vulnerabilidade. Quem controla o quê, se não há controle de nada?
Então me pergunto agora, sem rodeios: o que dói menos? Uma vida não vivida ou a vida que quase foi vivida? Não quero me amargurar por frustações passadas, e nem posso, mas algo que vem direto no meu coração e faz cair lágrimas tão sincronizadas às agonias, me altera completamente e eu não sei como superar. Não há receita e nem manual. Desnudos aos próprios sentimentos e sensações. E se essas fragilidades forem o começo para tentar e ser mais forte? Seria enfim um ponto para se segurar no caos sentimental? Enquanto essa fortaleza não se ergue, fico bem quietinho aqui no meu canto, limpando as minhas lágrimas e tentando me curar daquele sentimento, vida e experiência que não vivi. Será que isso é ser forte? Suportar a dor que se sente, mesmo que essa dor faça cair lágrimas?
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Triste é sentir que talvez a cura só chegue mesmo após a dor, em meio a processos intensos de aceitação. O que vem do coração do outro não há controle. Se conformar com isso é ser forte, sábio ou racional? Se conformar é uma forma de curar ou um refúgio para entender que na vida sempre estaremos vulneráveis ao que está no nosso coração e no dos outros? Não deu, não adianta mais. Melhor que supere de uma vez sem olhar para atrás – nos dizem e seguimos adiante.

Nunca pensei que inalar esperança seria algo tão tóxico. Ou tóxica seria a esperança que nos cega? A esperança nos prende em situações inimagináveis, a esperança pode paralisar. Justamente porque ela está entre essa dualidade da dor de sentir o que não viveu e o que quase se viveu. O que a esperança nos faz esperar? Qual o preço de acreditar?

Não. Não sejamos raivosos, descrentes e amargurados, apesar de tudo. Não nos esvaziemos pelas dores do que não ou quase vivemos.
Não soframos pelo que não está no coração do outro, é algo completamente fora de sua responsabilidade ou vontade, por melhor que sejam os seus sentimentos ou intenções. É uma vulnerabilidade, o risco ao se envolver. Faz parte, quanto mais cedo aceitamos, mais leve ficaremos.

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O pessimismo que vem dos traumas contagia e tira a beleza de se enxergar possibilidades de mudar a própria trajetória. Inclusive, se mantermo-nos pessimistas não conseguimos transformar esse sentimento de
quase vivido para vivido. Com pessimismo não chegamos ao coração dos outros e nem ouvimos o próprio coração, e não há silenciamento mais doloroso do que esse. E quem consegue viver feliz sem ouvir o próprio coração? 

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