E esse tal apocalipse?
Profecias, relatos e medo. Estaríamos pronto para
aceitarmos o fim?
Sem ondas gigantes, sem bolas de
fogo, sem tempestades fortes e furacões. Sem histeria coletiva, num silêncio
individual e maçante, muitas coisas tiveram o seu fim. Sem qualquer barulho ou
turbulência, acabou. É mesmo o fim para muitas coisas. E agora, frente-a-frente
com ele, muitos desafios e poucas respostas.
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Li sobre muitas profecias
afirmando, categoricamente, o fim do mundo. Talvez estivessem certos. Acabou o
mundo da forma que conhecíamos, mas isso tem acontecido num processo contínuo.
Os valores são outros e o que movimenta o ser humano têm sido outras coisas
também. Vivemos num mundo que se comporta, silenciosamente, como se ele fosse
um eterno faz de conta. Assim, por vezes, fazemos de conta que somos felizes -- principalmente em redes sociais -- de que cuidamos do planeta, de que
respeitamos o outro e de que pensamos num futuro em longo prazo. Confundimos
sentimentos com posse, e felicidade com marcas ou qualquer coisa que remeta ao
material. Condicionamos as nossas lembranças espontâneas a equipamentos e
buscamos o registro superficial de tudo -- mesmo que para tal, esqueçamo-nos de
viver o momento. Vislumbrando poder, um dia, acreditar e narrar os
acontecimentos de uma forma diferente da vivida, como se estivéssemos
construindo outro mundo, em meio a um universo paralelo.
Ouvi dizer que teríamos de ser
muito fortes, porque teríamos muitas perdas. Só que o que a gente não entendeu,
até então, é que estas perdas nem sempre são materiais e visíveis. Já não
podemos dizer o mesmo dos seus resultados, tão concretos e visíveis, quanto
qualquer outra comoção.
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A transformação está no
ar. Um fruto apetitoso e belo que vimos há alguns meses, não parecia que estava
podre por dentro, ou que viesse amadurecer excessivamente a ponto de apodrecer
por inteiro. Estruturas de longa data, em pouco tempo, ruíram e se converteram
em uma estorvante pilha de escombros. E aos sobreviventes, apenas o desafio de
reconstruir um imaginário tão submetido às instabilidades, que é viver com o
interesse do outro. O que apodrece vira adubo e o que é escombro pode
ser reaproveitável.
De tal modo, para que este mundo
acabe é necessário que você acabe primeiro com a forma que você tem visto o mundo
e as pessoas. O mundo não precisa de vítimas, mas de pessoas dispostas a
construir ou reconstruir quando for necessário. De nada adianta conhecer
valores, se não pode internalizá-los ou tampouco aplicá-los a tudo que faz.
Um ciclo se fecha para que outro
tenha a oportunidade de começar. Não é preciso que estruturas de concreto
estejam em ruínas para termos a chance de construirmos algo novo, mas se assim
for, que tenhamos a capacidade de construir algo melhor e louvável. Talvez esta
seja a sabedoria, deixada pelos nossos ancestrais, que ainda não nos demos
conta. Nos julgamos tão espertos no século XXI, mas será que estaríamos
realmente prontos para encararmos um fim definitivo? E mais ainda: estaríamos
dispostos às mudanças que o amanhã pede energicamente?
Este fim de mundo, ou este tal
apocalipse, precisa de fato ocorrer. Precisamos acabar com o modelo de mundo que
mais tem nos causado infelicidade, mortes, injustiças, do que paz, satisfação,
respeito, sustentabilidade e amor.
# Footnote:
Muitas (muitas mesmo!) saudades
de vocês, do blog e de escrever algo diferente do tema do meu TCC. Bom, agora
que tudo terminou e finalmente posso ter uma vida social novamente, cá estou! Muito feliz com tudo. A pauta do blog está feita e pretendo publicar muitos
textos.
Agradeço a todos pelas mensagens
enviadas perguntando quando o blog retornaria, aos meus queridos amigos pela
paciência e incentivo neste período, enfim, a todos que estão presentes de
alguma forma!
Oi Vin,
ResponderExcluirTudo bem? Espero que melhor, após TCC. Você não posta com frequência semanal, mas sempre traz excelentes textos.
O meu filho falou hoje algo muito semelhante ao seu texto. Ele disse assim: Mãe estamos nos transformando muito rápido, pense nisso e viva a nova era.
Enfim, estamos vivos.
Feliz natal!
Oi Lu, sempre um prazer ter você aqui!
ExcluirPois é, estamos vivos, mas será que realmente estamos prontos para de fato mudarmos?
Até mais!
O que me veio na mente foi que nós (todos) não estamos mais com aquele pensamento de antes, como nas músicas sertanejas de rais (moda de viola) ou ainda como nas músicas de L. Gonzaga que retratava momentos da nossas vidas (pacatas ou não) em músicas. O menino na porteira, a desavença com o filho, a história de um boi que foi condenado pelo médico mas que demonstrou ser mais forte que a ciência e por aí vai. Seu segundo parágrafo me fez notar que nossas músicas de amor, retrata na verdade o consumismo e um sentimento reprimo de amor materno e paterno, além não sabermos mais usar a estética das coisas para falar da simplicidade. Queremos apenas que as coisas dêem certo, nem que tenhamos que apertar tudo numa coisa só ou pagar pra parecer bom. Abraço mano
ResponderExcluirObrigado pelo comentário Rafa!
ExcluirPois é, as coisas que a gente quer que dê certo, nem sempre dão, é melhor que estejamos preparados para tal e mais: tirar um aprendizado do que foi vivido.
Abraço!