Um papo sobre Relações Públicas: uma leitura sincera

De onde vem o conflito de reconhecimento?
Discute-se muito que as Relações
Públicas não possuem uma definição clara do que venha ser. E assim,
inevitavelmente, as pessoas acabam afirmando que as RPs são muitas coisas e ao
mesmo tempo nada. No entanto, não seria a hora de deixar de lado uma definição
clara e fácil e partir para meios de legitimação e representação?
A atividade é relativamente nova. Nasceu
com marcas de assessoria de imprensa, época em que a imprensa era forte – um quarto
poder – e reputações eram destruídas da noite para o dia. Surgiu no final do século
XIX, aproximadamente, nos Estados Unidos. De lá para cá o campo de atuação se
expandiu, assim como as demandas sociais. As RPs vão responder a cada contexto
de forma distinta, embora haja um conjunto de valores deontológicos, tal como
qualquer profissão. Mas então por quê os conflitos?
Há inúmeros fatores que ajudam a
entender os conflitos de reconhecimento das RPs. No Brasil, a atividade só vai
ganhar força na década de 1950, quando surgem as primeiras grandes empresas
multinacionais e os departamentos de comunicação. Com as pulsações históricas e
políticas das décadas de 60, 70 e 80 (período da ditadura militar), o processo
de reconhecimento, autoestima e identidade das RPs são abalados, sobretudo
porque os conflitos com outros profissionais, como os jornalistas, se
intensificam na atuação das assessorias e departamentos de comunicação
institucional.
Conflitos de consolidação
A consolidação das Relações Públicas,
por parte do mercado e dos próprios estudantes, segue num lado errado. A
começar por tentar explicar as Relações Públicas no nível operacional, que é
muito mal reconhecida. Este é um grande erro.
Qualquer
um, muitas vezes, pode operacionalizar os modelos de trabalho do RP, além de
ser um trabalho com caráter aparentemente de bastidores. Inclusive, há um mito
de que a legitimação não se opera por esta característica. Mas esta noção é
frágil. Ninguém vê o diretor de fotografia, o cinegrafista, o cozinheiro, um
controlador de máquinas o tempo inteiro, mas todo mundo sabe, ao menos o geral,
o que cada um faz. Porque há na sociedade a justificativa para a existência desta
atuação, e ela é assistida por tal e a reconhece em sua singularidade.
As RPs
precisam olhar para a sua justificativa de existência para então firmar-se institucionalmente
na sociedade. Mas inevitavelmente, a discussão costuma ser levada para o âmbito
abstrato da prática, justificando o desconhecimento, devido a esta tal
abstração. A justificativa é de que as atividades e resultados de RP não são dadas
em números, mas em subjetividades. O que torna tudo mais contraditório, confuso
e pior: cria-se mais distância da atividade com o reconhecimento.
Muito se
fala também que o RP é multifuncional, que sabe fazer isso, àquilo e tudo mais.
Contudo, esta grande multifuncionalidade, por vezes, é interpretada como
exploração. Muitas vezes enxergam o Relações Públicas como àquele que deve
fazer tudo, inclusive, o trabalho que ninguém quer fazer.
Muitos colegas que
estão no período do estágio ou até mesmo estudantes que conhecem alguém que
faz, volta e meia reclamam que executam práticas, que não tem nada a ver com a
área. Mas se submetem a estes postos por precisar da bolsa, ou por, entre
outros motivos, não saber explicar o que é o seu trabalho, impor limites e
posturas, ou mesmo por não se interessar de verdade pela área.
Percebo a
carência de investimento em si mesmo, enquanto estudante de graduação. Quantos
livros leem da área, pelo menos um por mês? A quantos fóruns e eventos participam
anualmente? Não se pode esperar tudo de um curso superior. É necessário
expandir-se. Investir em formação cultural e acadêmica.
Será que
já pararam para pensar neste boom que são as redes sociais? Às vezes caem no
erro de resumir a profissão somente a isso, mas questiono o que realmente fazem
nestes espaços. Será que operacionalizam? Aproveitam as possibilidades para
imprimir a marca das RPs? Será que praticam as Relações Públicas, agindo
estrategicamente ou são meros executores?
Volto ao
ponto do investimento em si. Se o estudante não sabe o quê seu curso é, a
síntese das RPs, jamais poderá reclamar ou achar incômoda a situação de fazer o
trabalho que outras pessoas não querem fazer.
A melhor arma do Relações Públicas é o conhecimento
Existe na
sociedade uma demanda pelas práticas de Relações Públicas, sobretudo no Brasil,
onde ainda há problemas no reconhecimento e práxis da democracia e cidadania.
Cabe aos estudantes e profissionais investirem em sua prática de excelência.
Investir na expertise profissional e
na singularidade. Se ocuparem bem a demanda exigida pela sociedade, com os valores
éticos, morais e com base em suas normas deontológicas, a chance de mudança no
cenário tende a ser maior.
A
natureza dos RPs é o pensamento estratégico, a negociação. É o profissional do
diálogo, da mediação de relacionamentos. Presentes desde a banca de revista da esquina,
às grandes corporações. Executar funções
que não são suas resulta em consequências para a própria identidade e área. Não
é com data no ano, nem com briga de personagens na novela das oito, que os seus
problemas de identidade irão se resolver. O início da mudança consiste em ser
crítico, consciente e um real agente transformador. Consiste em aprofundar-se
em informações, em saber enxergar o seu espaço de atuação e oportunidade.
Não se
pode se resumir a uma noção de multifuncionalidade, tampouco a uma única prática
– como muitos fazem ao definir Relações Públicas como assessoria de imprensa e
comunicação. RP é estratégia, negociação. Se você não é estrategista, se não
consegue ver além em cada prática social, não terá espaço e consequentemente
viverá desejando a grama dos vizinhos (a área do marketing, da publicidade,
jornalismo, entre outras). Transferirá a sua responsabilidade de executar a
função para os outros comunicólogos.
A melhor
arma do Relações Públicas é o conhecimento, a excelência profissional, a utilidade para sociedade. Por coordenar outras áreas, precisa
conhecê-las bem para não confundi-las e achar que pode fazer tudo. Só com
informação, prática e muito envolvimento será possível incentivar a sociedade a
reconhecer o profissional que as assiste diariamente em suas necessidades.

Parabéns.!
ResponderExcluirExcelente argumentação.
Faltou inserir que os formadores de RP's têm contribuido significativamente para a má formação de graduandos, se não eles o próprio sistema educacional, certa vez ouvi o Flávio Schimit, "intervimos para que uma faculdade não fechasse o curso de RP". Minha faculdade foi reprovada pelo Mec,.Fale-se em valorização das RP. Fazer campanhas, e cria-se um mundo utópico.
A palavra certa é competência profissional - nas aulas muito se discutiu jornalismo x rp. E conteúdo, prática,teoria, blá, blá, blá, !
Morre-se na praia...!
Parabenizo por sua colocações!
De acordo!
Emanuel Viriato
Emanuel:
ResponderExcluirMuito obrigado pelo comentário!
Sim, sem dúvidas os formadores de Rps possuem uma parcela significativa na formação de novos Rps e competentes. É todo um cenário que influencia nos espaços ocupados pelo RP.
Esteja sempre convidado a voltar aqui no Blog!
Abraço!