M.U.: Do virtual às ruas: Brasileiros começam a (re)plantar Oliveiras de cidadania
“Saia
do Facebook e #vempararua!”. A frase nos
cartazes dos manifestantes nas ruas sintetiza e sinaliza reflexos de um novo
tempo. O processo de exercício da cidadania -- algo tão secular e distante do
cotidiano de muitos -- parece ter despertado e se adaptado à geração conectada,
imediatista e interativa.
Se
um dia foi cômodo refletir e difundir juízos atrás de um computador,
permanecendo anônimo, passivo e omisso à opressão cotidiana, felizmente, este
cenário tem se alterando gradativamente. As manifestações que tomaram as ruas
de várias partes do país ilustram a existência do online e as suas forças e
anseios, tão capazes de provocar mudanças. Mostraram a existência de esperanças
para um país melhor.
Embora
o fato de ir somente as ruas não signifique necessariamente a sonhada cidadania
plena, a consciência política e social, por parte de todos -- inclusive, eles a
desejam quando pedem educação de qualidade -- não podemos deixar de destacar o
primeiro passo dado. E mais ainda: através da internet por brasileiros comuns.
Enxergou-se nas redes, em meio a tantas
propagandas e publicações toscas atrás de sucesso rápido, o celeiro informativo
para articular-se e mobilizar-se dentro e fora delas. Esse processo pode ser
interpretado como momentos de plantações de Oliveiras. Árvores que demoram a se
desenvolver, mas que são capazes de perdurar por séculos.
O
gigante que agora toma as ruas nunca
dormiu. Os movimentos sociais e os inúmeros espaços de discussões públicas, na
própria rede, que o diga. Sempre estiveram acordados. O que havia -- e talvez
ainda persista -- é o desinteresse real pelas questões de interesse público,
somada à ausência de conhecimento.
No
cotidiano, a população convive com os problemas sociais históricos, estruturais
e econômicos. Confrontados pelos índices oficiais de distribuição de renda e
qualidade de vida, tão difundidos pelos canais de informação. A chamada
explosão dos últimos dias se deu graças a essa semente que começa a se
desenvolver na tomada de consciência. É como se, de repente, todo esse real
fosse visto e surgisse um sentimento urgente de que precisa haver mudanças na
própria realidade política e social.
O
Brasil vive um momento singular. Com o uso da internet para exercer e (re)descobrir
a cidadania, tende-se a imaginar que as questões públicas finalmente ganharão
espaço e tenderão a caminhar para resoluções. O Executivo, Legislativo e
Judiciário já estão até funcionando mais rápido. Seria a confirmação do novo
tempo, ou uma manobra política? De todo
modo, as relações virtuais, só nos mostra o quão precisamos nos debruçar nos
modelos e repensá-los coletivamente, sem medos. É o nosso desafio.
Conectados,
oxigenando as nossas ideias, semeando um novo projeto de futuro justo e que
carregue características dessa geração. Nosso espírito cidadão está se desenvolvendo,
os frutos virão em longo prazo. O que tranquiliza diante dos nossos problemas
seculares enfrentados dia após dia, é que as Oliveiras tendem a se multiplicar
e perdurar por novas e longas eras. ∞
*Meio-fio urbano em versão especial.
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