(Des) Respeitável público!




É fato afirmar que as pessoas hoje não possuem limites entre o público e o particular. Parece uma verdadeira competição de quem é mais público que o outro, quando o assunto é se expor e expor o outro. Só que não percebem, lógico -- faz parte do campeonato a ausência de visão. Quando alguém vive, ou tenta viver em uma lógica exatamente oposta, prepare-se haverá julgamentos.
Este é o grande problema quando se tem uma vida mais reservada, menos pública do que hoje é considerado normal. O seu silêncio e omissão se tornam produto da roda de conversa alheia e da imaginação dos mais fúteis, ou quem sabe, desocupados.
Tudo isso porque as pessoas possuem uma necessidade medíocre de falar do outro e de dizer que estão bem. Precisam dizer que o que estão fazendo é muito importante, e precisam dizer que estão consumindo alguma coisa, de preferência algo de nome e valor. Precisam de público e de muitas aprovações, se contentam com o que é temporal e não conseguem encontrar o durável. Seria falta de autoestima? Estão sempre em busca de algo que as complete, tornam tudo mais descartável. Isso porque nos ensinam desde cedo que precisamos de alguém ou alguma coisa para nos completar, enquanto na verdade somos completos e precisamos suplementar o que consideramos saudável para nossa existência e convívio. É só inverter a lógica dos clichês, parece difícil?
O indivíduo não público, ou melhor, que não tem muito que por em público, se sente inferior e através de tentativas bizarras tenta suprir este vazio que cresce em segundos. É comum pessoas que nunca saem de casa, na primeira oportunidade que tem, explicitarem para o seu público, fãs -- tudo menos os amigos -- o momento de uma única saída. Até mesmo coisas banais, como um passeio ao parque, uma ida ao supermercado, um simples passeio de ônibus. Ainda me pergunto se uma pessoa que vai a um show, por exemplo, e passa o tempo inteiro preocupado em gravar, consegue se divertir e aproveitar àquele momento tão singular. Não sei muito bem o que as pessoas vivem, mas percebo que elas estão tão preocupadas em dizer que estão vivendo que se perdem na sua própria existência e essência.
É a síndrome de virar o popular do grupo, como nos filmes vazios de adolescentes americanos: não basta se expor, é preciso expor o outro, diminuí-lo e por fim dizer que está bem, que é o certo.
As pessoas estão acostumadas a seguirem apenas um modelo de felicidade, cujas bases são o poder, dinheiro e vida a dois. O interessante nisso tudo é que elas se incomodam com os que não seguem o mesmo modelo. Muitas desistem de encontrar os seus próprios modelos e criticam os que estão continuando a procurar. Se soubéssemos que nossa existência na Terra não dura nem um milésimo de segundo do tempo de vida do universo, ouviríamos bem menos àquilo que nos prejudica e tentaríamos dar um sentido mais amplo a nossa própria existência.
Mas aí o sujeito se expõe, põe as suas fraquezas e virtudes em público. Quantas pessoas se aproveitam disso para os próprios interesses? É só o rumo da sua vida que está em jogo.
(Des) respeitável público, bem-vindo ao público! Aos reservados não se preocupem, ou melhor, se preocupem, pois arrumaremos um jeito de te tornar público! Aplausos, por favor?! Se ajeite, que essa ou isso vai para a rede! Diga xis e se importe com a sua popularidade.






Comentários

  1. Oi Vinicius
    Vc escreve muito bem, e está certo, por isso programas como o BBB faz tanto sucesso, as pessoas querem fazer sucesso, e muitos querem se espelhar em pessoas comuns na TV, eu fiz um post recentemente comparando sucesso a aparecer na mídia, são coisas diferentes.
    Bjão e um bom final de semana.
    http://ashistoriasdeumabipolar.blogspot.com.br

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  2. Luciana,

    Pois é, sucesso é consequência de um esforço, aparecer na mídia algo de 'sorte', momento.
    Enfim, obrigado pela leitura!

    Ótimo final de semana pra você tbm

    =D

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  3. Essa maldita cultura americana entrando nos lares, dividindo o mundo entre winners e losers...você tem razão, não basta estar bem consigo mesmo, tem de estar bem para os outros. Espero que com a evolução, o ser humano aprenda a conviver em coletivo.

    Abraço e bem vindo a blogosfera !

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  4. Oi Vinicius,

    Muito boa a sua reflexão. Acho que essa exposição,independe da classe social, gênero ou mesmo de estilo. Hoje a ideia de aderir ao grupo é determinante e aí se ficamos fora, somos os anormais.

    Já te adicionei para acompanhar os seus textos que são maravilhosos.

    Beijos.

    Lu

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  5. Vítor,

    Obrigado pelo comentário, realmente essa cultura imposta nos faz mais mal do que bem, eu não sei onde chegaremos com tanta superficialidade.
    Espero que o ser humano possa descobrir como evoluir e vencer a própria ignorância.

    Abraços!

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  6. Luciana,

    Pois é, mas esse comportamento de ir em grupo é preocupante, por vezes deixamos de pensar em nossas reais necessidades e felicidade.

    Obrigado pelo comentário!

    Até mais!

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  7. Vendedor,

    Obrigado pela visita e comentário, será sempre bem-vindo!

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  8. Boa noite, Vinícius.
    É realmente estranho que numa sociedade onde cada vez mais as pessoas procuram fazer amigos no meio virtual, tantos acabem se esquecendo de como agir no mundo real.
    As situações descritas por ti no texto se repetem em praticamente todas as cidades brasileiras, independentemente do porte destas.
    Não creio que essa atitude egoísta e imediatista do ser humano venha a mudar com o tempo, embora existam pessoas que realmente coloquem as necessidades dos outros acima das próprias.
    Uma pena que estas sejam a minoria.
    Agradeço a tua passada lá no blog e te desejo uma boa Páscoa, sejas religioso ou não.
    Até mais.

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  9. Jacques,

    Realmente é lamentável que uma minoria seja capaz de fazer isso. E o pior é que ja tem tantas pessoas desacreditadas, é complicado e meio triste.

    Obrigado pelo comentário e boa Páscoa pra você também!

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Bem-vind@ a Ótica Cotidiana!
Obrigado pela visita e leitura do texto.


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