POV: a montanha-russa de superar algo ou alguém

são tantos altos e baixos, né, minha filha? | foto: oticacotidiana

Superar alguém — ou alguma coisa — é tipo andar numa montanha-russa emocional. Um dia você acorda, abre a janela, o sol bate na cara, e vem aquele clichê todo: "Nossa, superei! Superei rápido, fácil, foi lindo, foi leve, foi tudo!". Vem uma força, uma energia, um poder de dentro que diz: "Eu não preciso de mais nada, nem de ninguém! Eu sou destemido, eu tenho valor, eu sou maravilhoso, eu sou o foda!".

Só que aí... sei lá... dá meio-dia. Você vai ali esquentar o almoço, fecha a tampa do micro-ondas e pá, toma uma crise na cara. Bate saudade, culpa, lembrança. Vem aquele pensamento:

"Meu Deus, eu fui um idiota. Ele era tão bom pra mim. Aquilo era tão importante. Será que ainda dá tempo? Será que ela pensa em mim? Será que a gente ainda tem chance?". A mente começa a fritar e você anseia por uma resposta fácil e rápido: "Já sei, vou tirar um tarô. Melhor: vou perguntar pro ChatGPT, vai que o baralho cigano responde alguma coisa".

Sem nem pensar no que isso quer dizer, você vai lá e tira as cartas. Puro impulso. A comida esquentou, você começa a ler as cartas. O que elas dizem?

“Você precisa seguir em frente.”

Aí você responde:
"Você tá louca IA estúpida? Não, não é isso não, eu queria voltar!"

Indignado, você tira de novo.

Nova tiragem, nova esperança... e de novo:
“A combinação das cartas diz que você precisa seguir em frente, tipo agora”.

Você se irrita, fecha tudo e resolve ir comer. Come com raiva a comida que já perdeu o brilho depois de tanto ter sido requentada. Come tanto que tem medo de ter uma indigestão emocional. Mas passa.

Lá pras duas da tarde, o ciclo vira. O carrinho da montanha-russa que desceu bruscamente começa a subir de novo.

"Quer saber? Eu acho que o tarô estava certo. Eu sou incrível. Eu sou independente. Eu não preciso de ninguém".

E aí você entra no modo “F*d*-se”. Começa a fazer coisas que estavam na gaveta há séculos. Abre o arquivo de alguns projetos, faz arte, se joga em alguma coisa nova. Ou vai treinar. Treina como nunca. Focado. Corpo, mente, tudo alinhado. Tira uma selfie em que se sente um grande gostoso e posta no story com aquela legenda ou um emoji que estanca a crise do almoço.

"No fim, eu estou bem sim, muito bem!".

Só que aí... vem a noite. E, como já dizia aquela filósofa contemporânea: “Mais uma noite chega e com ela a depressão...

A montanha-russa despenca, você sente o frio na espinha. Resolve ir se deitar, rola na cama, suor pinga nas suas costas, enquanto pensa:

"Meu Deus, que p***a é essa que eu tô fazendo? Tá tudo errado. Eu tô mal pra caralho. Eu não quero superar coisa alguma. Eu só queria meu mundinho de volta".

Você clama por um milagre, questiona suas escolhas, sussurra o próprio surto baixinho no travesseiro: "O que tá errado comigo? Por que as coisas não fluem? Me ajuda, universo. Me ajuda, Senhor. Me manda um sinal, por favor!".

Até que o cansaço ganha. Você dorme de qualquer jeito com a cara amassada e úmida pelo suor e lágrimas que se grudaram também no lençol. Lá pela madrugada, acorda. Olha pro teto, pra penumbra da lua que escapa pela cortina e pensa:

"Nossa, que maluquice. Foi só um dia ruim. Tá tudo bem".

E volta a dormir. Acorda de novo com o mesmo sol na cara, com a mesma esperança batendo no peito. E recomeça.

Até que um dia... você percebe que esse sobe e desce virou parte do processo. Que esses surtos, desesperos e euforias fazem parte. E que mesmo o que parecia insuperável começa a perder força. Você já não se assusta tanto. Já não se abala tanto. E quando vê, você está mais tempo em cima do que embaixo na montanha-russa.

E chega o dia em que o estar embaixo nem faz mais sentido. Aí sim, você segue em frente. Não como quem foge, mas como quem entendeu. Entendeu que não precisava daquilo, que você pode. Que você está pronto.

E quando você vai, quando você realmente vai, vem coisa boa. Vem tudo aquilo que você nunca achou que ia viver. Vem o que estava preso, represado na barreira de lágrimas e apegos que você construiu tentando manter vivo o desejo conhecido. Você finalmente vive, mas só porque teve coragem de largar. Porque, enfim, você deixou ir.

Mas, claro... não foi fácil. Foi montanha-russa. Foi pedir pro mundo parar várias vezes — e o mundo nunca parou. Ele continuou. E você teve que continuar também. Engolindo o choro e a vontade de sumir. Porque a vida cobra isso da gente. Todo dia. Até que a gente aprende. E vai, ainda que sem saber como, só vai.


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