Viagem no tempo


| foto: oticacotidiana
 
Hoje lembrei que sonhei nesta noite que encontrei um garoto. Ele devia ter entre seis ou oito anos e parecia paralisado com alguma coisa que o abateu. Ele estava ali, vivo, mas seus olhos estavam adormecidos, perdidos, como se parte da sua essência tivesse sido congelada naquele instante e que a sua vida e sonhos evaporaram por um puro acidente da vida.
 
Eu o encontrei ou ele me encontrou?
 
Encarei àqueles olhos e pude entender que, de fato, ainda havia vida ali, só precisava talvez de um empurrão para reiniciar. Institivamente, coloquei minhas mãos na direção da sua cabeça e emanei todo amor que pudesse ter em mim naquele momento. Embora isso talvez pudesse até me esvaziar, não me importei. Tudo que eu queria era salvar aquele menino para que ele pudesse crescer e ter uma vida feliz. Esperanças de uma cura.
 
Assim o fiz, dei o meu amor e ele voltou à vida. Seus olhos brilharam e eu me senti infinitamente feliz e realizado pela cura que havia proporcionado. Pouco tempo depois, acordei. Acordei me sentindo muito bem, feliz com meu próprio poder e força para transmutar amor para outras pessoas. Fui viver o meu dia.
 
De repente, lembrei de detalhes do garoto. Coincidentemente pude ver pela memória que as fotos antigas trazem, que ele era como eu quando criança. O mesmo cabelo baixo, o mesmo olhar, a mesma forma de se vestir, de andar e de se proteger do mundo. Foi então que entendi que, às vezes, você fará viagens no tempo sem perceber e com objetivos que sua consciência racionalmente não seria capaz de formular.
 
Você fará viagens introspectivas, a partir da sua versão adulta para resgatar algo do passado e sem se dar conta. Você é capaz de voltar no tempo e de curar tudo que você teve que passar (ou tentar se curar) sozinho. Como podem existir tantos fragmentos nossos ao longo de uma vida, ao longo das tentativas de se encontrar e ser feliz? E como é extraordinária também a nossa capacidade de curar feridas tão profundas, tão intrinsecamente ligadas à nossa alma.
 
Deste sonho em diante, daquela viagem no tempo, àquele adulto que curou sua versão criança, nunca mais foi o mesmo e tudo pôde enfim ser melhor. Acho que àquele menino enfim pôde crescer para ser feliz como é.
 
Ser como é, é um ato contínuo de coragem.
Ser como é, é aceitar a própria verdade e liberdade.

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