Outros eu

| foto: pixabay


No cosmo a vida pulsa desenfreada em meio ao caos orquestrado e sem fim que é o que entendemos ser o universo. Em algum lugar neste vasto e misterioso universo, há inúmeros outros eus vivendo agora. Em algumas das infinitas dimensões pareço mais feliz, vivendo o que ainda não consigo viver, anos-luz num outro ponto do cosmo. É tão incrível imaginar que não existe impossível para o que está no universo. Ao mesmo tempo, é encorajador tentar entender a própria finitude de existir.

Em algum lugar, você não precisou passar por tudo que passou, você não tem essas feridas. Você apenas absorve toda bondade e amor que exalou para quem estava ao seu lado. Em alguma dimensão, você não tem medo, você não precisa se esconder. Você apenas é e isso é o suficiente. Você se sente leve por não precisar competir.

E se em algum momento seus eus de outras dimensões pudessem, num ato de pura harmonia, se encontrar com versões dos seus eus mais contrastante, do que acha que falariam? Será que o contraste inspiraria para as possibilidades de viver o não vivido, ou o contraste traria insegurança para tudo de bom que já se viveu?

Talvez eles não possam se encontrar. Esse encontro tiraria a pureza de cada um. Mas parece cruel pensar que existem outras versões minhas muito mais felizes (ou mais tristes, talvez) vivendo tudo que jamais viverei nesta versão que fantasia as infinitas possibilidades de existir. Vislumbro elas para fugir da própria vida que se mostra complexa e desafiadora o tempo inteiro, em meio a altos e baixos.

O que uma versão solitária diria para uma que é rodeada de pessoas e de amor? O que a sortuda diria para a azarada? A realizada, para a não realizada? Será que as múltiplas dimensões conseguem ao menos se transformar em sonhos, para as versões que estão perdendo a esperança de que algo ainda pode mudar para melhor?

E se existisse um mentor que pudesse soprar algumas possibilidades novas no ouvido, para que as versões não felizes pudessem ser felizes? Elas aceitariam essa felicidade ou deixaria passar por temer não merecer ou ser possível? Da mesma forma, será que uma versão feliz aceitaria ficar triste por qualquer desamor?

Minhas versões habitam vários lugares e ao mesmo tempo nenhum, elas existem e não existem em sonhos itinerantes. Elas só querem encontrar e viver um sentido que as faça se sentir bem e melhor a cada dia.

Em algum lugar no tempo, encontremos as respostas. Enquanto seguimos vagando pelo espaço tentando ser feliz com o que temos. Em algum lugar do universo, estou curado de todas as maldades e feridas que vivi e ajudo a curar outras pessoas que um dia estiveram como eu.

Foi aí que eu percebi que ficaria bem.

Apesar das feridas doerem, de sentir falta de viver vidas diferentes da que vivo, tudo, cedo ou tarde, fica bem. Uma hora ou outra a vida acontece, principalmente quando a gente para de esperar por milagres ou se prende a versões fantasiosas. Porque a vida, na realidade, está sempre pulsando e se transformando para dar conta do tamanho do nosso eu e dos nossos infinitos desejos e sonhos.

 

  

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