Portal

| foto: pixabay


Nosso encontro foi tudo, menos banal. Hoje, estando em um lugar diferente do tempo, me pergunto o que aconteceu e o que significou tudo aquilo. Passaram-se quase 3 anos desde que nos vimos pela primeira vez. Naquele instante, quando nossos olhos se conheceram, senti que alguma coisa nos marcaria dali em diante. Lembra daquele silêncio que nos invadiu por um tempo, no instante em que nos encaramos? Sei que te marquei de alguma forma, só não sei como. O que posso dizer é como você me marcou de um jeito que eu não esperava.

Me apaixonei intensamente por você e quis fazer esse encontro acontecer, quis fazer a relação existir para além daquele primeiro encontro. Contudo, quanto mais me aproximava, mais você se afastava. Fiquei sem entender o que se passava. Depois de um tempo tentando, entendi que nem sempre encontros marcantes significam que o outro está pronto para viver algo intenso coisa com você. Essa é a impressão que levo. Você não estava pronto e nem disposto. Você sabia que havia algo capaz de ser gestado, mas não estava pronto para se abrir para isso. Imagine, você ia sair de um lugar completamente controlável e previsível para viver algo completamente novo. Talvez enfim, nessa mudança, você pudesse ser quem tanto é e não consegue ser por medo.

Eu representava uma porta para um mundo desconhecido e libertador que você não ousou atravessar. E, hoje, não te julgo como covarde ou medroso. Você apenas não deu conta e deixou passar. Silenciou um sentimento em nome da própria segurança. Não sou capaz de te julgar e nem quero. Cada um de nós sabe o lugar e o conforto de ocupar um espaço seguro no mundo.

O nosso encontro foi tudo, menos banal. Pude ver nos seus olhos o fascínio de entrar em um universo. Sabe quando a gente está diante de um reflexo para um portal em que é mostrada uma versão nossa mais feliz e livre? Foi mais ou menos assim. Você só não estava pronto. Ficou saboreando o portal, mas não teve o impulso forte o bastante para atravessá-lo.

Quase três anos se passaram desse encontro. Você foi viver a sua vida e podou qualquer aproximação. Entrou em relações e certamente se entregou a elas. Do lado de cá, me dediquei a mim mesmo, a entender o meu lugar no mundo e a ir atrás do que acredito me fazer feliz. Demorou, mas superei o nosso não-encontro, a nossa não-relação. Ficou aquele gostinho do que poderia ter sido, o gostinho do quase. É um gosto amargo, já adianto.

Quer saber? Quem sabe a vida seja só um mix de encontros que não são capazes de se tornarem reencontros? Quem sabe o escape para explorar e conhecer uma versão completamente nova e livre seja uma ousadia que nem sempre estaremos prontos para encarar? Ser livre é algo muito forte e transformador.

Quem sabe um dia você consiga entender o que o nosso encontro significou, o que as suas fugas significaram e o que você gostaria de ter vivido. É algo extremamente pessoal e único.

Hoje falo de um lugar do presente, após sedimentar o passado. Não acho que o futuro dê espaço para gente, porque você se decidiu, ao não me deixar me aproximar e eu respeito sua escolha. Hoje já não estaria disposto a embarcar em uma relação em que eu não tivesse sendo correspondido, em que a pessoa tivesse medo de viver algo comigo. Amor para ser vivido não deve ser escondido.

Passou. Mas nosso encontro foi tudo menos banal. Levarei o seu olhar de poucos encontros com muito carinho. Quem sabe um dia você ao menos tenha disposição e menos medo de viver alguma coisa, quem sabe uma amizade verdadeira, quem sabe o amor. Por outro lado, nem tudo está perdido. Pode ser que comigo não viva essa relação de amor. Mas eu tenha sido a porta para que pudesse viver algo com alguém diferente de mim. Hoje você teria condições de atravessar?

É, nem sempre os casais terminam juntos. Nem sempre encontros marcantes resultam em relação. Há mais mistérios entre nós do que clareza. Há algo em você que eu gostaria de descobrir. Há algo em você que talvez nem sequer exista e eu não vou descobrir. Talvez você nunca tenha existido, talvez você só tenha sido um sonho ou ilusão. Afinal, nos conhecemos realmente? O que sabemos um do outro? O mesmo vale para o seu lado, porque estamos conectados mas não somos capazes de nos envolver.

Nosso encontro foi tudo, exceto banal. Um dia, quem sabe, nos encorajemos para nos conectar.

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