Volte 10 casas

Você chegou aqui, mas você quer estar aqui?
| foto: pixabay


Me perguntei quem eu era há 10 anos e o que existe de diferença entre nós. Estranhei. Algumas coisas surgiram na cabeça e até uma tentativa de fantasiar sobre a inocência perdida e crença de esperança pura. No passado, sei que nada existiu tão forte assim, mas nesse instante de análise, poderia ter para me deixar mais confortável nessa viagem de reflexão sobre o que senti e fui capaz de responder.

Na realidade, entre tantas fantasias e escudos, percebi que o que diferencia os meus eus passados é só uma coisa: eu era menos ferido e acreditava mais em tudo. Quanto mais somos feridos, mais tentamos nos curar. Lei da sobrevivência, é você? Com o tempo, o nosso corpo começa a ficar mais lento, noutra ele cansa e para de funcionar direito. As feridas, então, se acumulam e nos deformam com o passar do tempo. O ponto é conseguir enxergar o que está acontecendo e tentar reagir. No entanto, como se cura estando tão ferido?

Então fui mais ousado e me perguntei em que estágio estaria meu emocional pensando desta forma? Teria me ferido tanto nesses últimos 10 anos a ponto de as feridas se acumularem antes mesmo de se curarem? Teria perdido a habilidade – por perder a inocência de acreditar nos outros e também em mim – e agora o que vivo são momentos de tentativas de curas apressadas, por agora a vida ser uma lança astuta que sempre fere pontos que pensei ter curado?

A vida adulta tem um pouco disso. É tudo um tanto acelerado, cansativo e imediato. Exigem que tenhamos resposta para tudo, para o inesperado e inexplicável. Quem tem tempo para curar os traumas passados? O próprio silenciamento e rotina já são gatilhos para se ferir. Se houvesse como cortar tudo isso, parar o tempo, curar e se renovar, será que estaria como estava há 10 anos, sem tantas feridas? Será que a cura me faria escapar da mania de se auto sabotar por não saber responder sempre a isso que é imediato?

Talvez. Ou talvez essa possibilidade desenhada seja reflexo dessa ilusão que citei anteriormente sobre a noção da inocência. Da inocência que está presa no tempo, incólume, num estado de espírito que não se recupera mais. Faz algum sentido achar que aquele espaço-tempo me faria me curar mais fácil?

A vida hoje é um tal de acelera, acelera. Que tempo tenho para me curar ou resgatar um estado de pureza para enxergar o mundo, me perdoar e perdoar o que a vida trouxe para mim? Quem dera não sentir que estou sempre me afogando, tomando um caldo salgado do oceano que é viver aqui. Enquanto tento nadar, sobreviver sem perder a esperança de que essa experiência pode e deve ser melhor mais adiante.

Brigamos com tudo. Tentamos brigar com o tempo lhe pedindo que seja menos indiferente e que nos deixe ao menos no curar com juventude e energia para viver o que não foi vivido ainda. Pedimos para curar os nossos traumas enquanto ainda somos jovens para poder envelhecer sentindo que fez escolhas certas. Só não percebemos o tamanho disso. Que o movimento de sobrevivência, na realidade, é só um presságio para o fim da própria vida. E nossa vida pode acabar em qualquer instante. Não, não vai dar tempo mesmo de se curar de tudo e nem adianta reclamar porque o tempo acabou. Contudo, o que podemos sempre ter em mente e se perguntar depois de perceber o tamanho disso tudo é: terá valido a pena ter se ferido tanto tentando sobreviver?

 

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