Histórias apagadas

ao se olhar no espelho, você enxerga a própria história? | foto: pixabay


Me olho no espelho
E procuro algo encarando o fundo dos meus próprios olhos
Que parecem sem vida
E à procura da própria história

Pergunto: quais foram as minhas marcas apagadas?
E porque agora vivo tentando achar algo conhecido,
Algo para chamar de meu novamente.
Me encontrar, me amar...

Mas minhas marcas passadas parecem apagadas
Fortemente, violentamente, silenciosamente
Apagadas...

Como e quem tirou isso de mim?
Quem o fez, o que esperava?
Seria a forma de ocultar algo que era verdadeiro em mim?
Algo que brilhava e incomodava?

Ser verdadeiro é o éter vital
Apagar isso, então,
Seria apagar a vida que era minha?

Existem dores,
E existe o sentimento de procurar-se e não se encontrar
É violento, cruel e transforma tudo,
A ponto de se apagarem as marcas passadas

É o extermínio propriamente dito?
O quão a própria omissão me deixou esquecer de partes apagadas?
E não se trata da minha mera omissão ou passividade, antes que me julgue...
Se trata de um processo sofisticado, silencioso e feroz que sequer me deixou perceber

Tão forte...
Tão forte que me tira o direito de lutar
Hoje, quem aguenta mais lutar para viver?
Quem dera pudesse apenas existir sem ter que ir à luta

A minha história se apaga
Todas às vezes que a sensação de protagonismo da própria vida desaparece
E essa sensação está logo ali:
Implantada e reforçada em minhas interações com o mundo
Missão cumprida... quem é o mandante? 

sem história e sem protagonismo não existe caminho para trilhar... | foto: pixabay

No final das contas é essa a missão:
Apagar-me...
Apagar-me para que a sensação de protagonismo não exista
Nem a dos meus antepassados

Quando se esquece de como é ser humano e pensante,
De se enxergar e se reconhecer como ser que tem personalidade, histórias, desejos e sonhos,
É mais fácil doutrinar, amansar, dominar e apagar...

Se tiram de mim o amor que sinto por mim,
Se tiram de mim o valor da minha história,
Se tiram de mim o valor real das minhas conquistas até aqui

É porque sem tudo isso, deixo de existir espiritualmente,
Me torno apenas um corpo, mais um entre tantos
Deixo de me lembrar como é ser humano
E as pessoas, do meu entorno ou não,
Também se esquecem e deixam de me ver como um

A filosofia dos dominantes é clara:
É mais fácil controlar quem não tem sonhos,
Do que quem sonha e acredita que pode realizá-los
Dominar pela servidão, qual o preço desta filosofia em questão?

E assim morrem heróis
E assim morrem àqueles que queriam mudar o mundo
E assim morrem àqueles que tinham algo novo a dizer
E no fim, o ser que era humano se torna um número 
Um entre tantos 

A matemática diz que os números são infinitos
Talvez por isso tenham tanta preguiça de contar
Talvez por isso seja mais fácil apenas dominar, fazer esquecer 
Apagar...

Mas um dia quem sabe a minha história e memória retornem
E eu e tantos outros voltemos a nos enxergar outra vez
E quem sabe nesse mesmo dia
O sol possa nos alcançar sem nos deixar na sombra daqueles que insistem
Em nos dominar e de nos apagar

E assim, quem sabe, possamos viver a própria história.

 

12 anos de Ótica Cotidiana...
A estrada é longa e chegamos até aqui após inúmeras e incontáveis transformações. Você está pront@ para nos acompanhar nessas novas etapas que se desenham no horizonte? 

O obrigado pelo carinho é do tamanho desses 12 anos. Vamos em frente, porque há muitas outras histórias para serem registradas aqui...


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