A paixão e o propósito

Você sabe o que te faz seguir?


Bruno Bispo*
redacao@oticacotidiana.com




Qual a sua maior paixão? Você consegue definir o que mais te move? Em um universo de tantas possibilidades, redes e conectividade, é possível elencar uma dentre tantas coisas pelas quais você vive?

'é mais fácil se perder, diante de tantos caminhos, num labirinto de si próprio' | foto: pixabay 

Respirei profundamente ao ser questionado, numa entrevista de estágio numa grande empresa, qual a minha maior paixão (na vida). Eu precisava parecer determinado, e pensar muito para responder a esta pergunta não era uma boa maneira de fazê-lo. “O que me move?”, pensei comigo. Sinceramente, não consigo recordar qual foi exatamente a minha resposta.

Ainda no começo desta terceira década de vida, é difícil vislumbrar qual a fundamentação que temos construído por trás de cada escolha, de cada atividade ou de cada aquisição. E, muitas vezes, nos pegamos percorrendo caminhos que optamos conscientemente - ou talvez nem tanto - sem saber exatamente o motivo. Entretanto, estamos vivendo cada vez mais, e com isso há mais tempo para ser investido, mais projetos para serem desenvolvidos, mais vagões e mais trilhos.

Pois então, o que te move? O que é que te impulsiona a sair de casa porta afora, café na mão e mochila nas costas? O que te faz enfrentar filas de transporte público, ficar atento ao relógio, ouvir críticas do chefe, pagar boletos, trocar e-mails, pular ou postergar refeições? Ou, vamos ainda mais fundo, o que te mantém acordado? - em última e mais fundamental análise: o que te faz desejar continuar vivo ou viva?

Acho fascinante que algumas pessoas têm, como nos filmes de biografia, uma causa pela qual lutam diariamente. Um motivo para se manter em movimento. Uma única bandeira, erguida como uma faixa de boas-vindas. Essas pessoas nem precisam explicar qual sua paixão: é como se a exalassem, é algo tão grande que chega à frente delas mesmas.

 | foto: pixabay

Diante de tantas possibilidades, é praticamente impossível escrevermos nossa história com uma pauta única e roteiro linear. É como se tivéssemos a chance de percorrer trilhos distintos, de forma concomitante, e sermos múltiplos em nós mesmos. Talvez seja esse o problema - se é que estamos falando mesmo de um problema. Mas, é mais fácil se perder, diante de tantos caminhos, num labirinto de si próprio. E aí só sair andando, e andando...

Aí reside o desafio: levantar, diante de cada caminho tomado, seja por decisão livre e consciente ou por circunstâncias do destino (aqui, muito mais difícil), qual o propósito? Como costumo dizer (principalmente a mim mesmo), é preciso “mantralizar”, diante das escolhas, desafios e percalços do(s) caminho(s): 1) de onde eu vim, 2) onde estou e 3) pra onde quero ir. Assim, acabamos retomando a consciência das nossas decisões e escolhas; e também dos caminhos que somos impelidos a seguir (que de certo modo não deixam de ser uma escolha, concorda?).


*Bruno escreve quinzenalmente nas terças-feiras.



Bruno Bispo
Preto, baiano, filho de classe trabalhadora. Amante de livros, cerveja e sorrisos.
Estudante de medicina, professor, 'escrevedor', pagodeiro e tantos outros.

 

Comentários

  1. Texto como excelente ponto de partida para uma grande reflexão existencial, na busca incessante pelo propósito de viver e pela felicidade!

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