Terno instante

| foto: pixabay

O momento em que você descobre que pode gostar e amar alguém é traiçoeiro e fugaz. Antes do primeiro contato, o amor que emerge e se expande em seu ser é fraternal, denso e real, mas ele não é capaz de perturbar o físico, não lhe desperta desejos carnais.

Quando se descobre que é possível amar outra pessoa, independentemente do sexo, idade e classe social, ao mesmo tempo em que é mágico é assustador. E agora, o que farei com isso que sinto? O que é esta energia nova que perpassa por mim sem meu consentimento? Por certo devemos nos perguntar.

Surge a vontade de abraçar, de tocar, beijar na boca e querer a companhia daquela pessoa que lhe altera de forma silenciosa, certeira e de certo modo traiçoeira. Traiçoeira porque lhe pega de surpresa. Aos poucos você entende que será sempre de surpresa. Não se programa na agenda gostar de alguém, não se escolhe propriamente o amor. Esse conflito, essa vontade de viver o desejo, de sentir o corpo do ser amado próximo ao seu é o marco que lhe apresenta a vida adulta e o reforço da sua condição humana.

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Esse primeiro instante é mágico, lhe fisga, lhe rouba um pouco a vida e lhe põe diante dos dilemas e dualidades das relações humanas. É como se houvesse a morte de algo para o nascimento de outro, mas não existe luto, não existe remorso. Nada disso. É como perder dentes de leite para que novos surjam para viver o resto da vida agora adulta. É um processo inerente e necessário para evolução do espírito, por isso ele surge de forma rápida, traiçoeira e sem maldade, justamente porque ainda somos inocentes o bastante para acreditar no poder de transformação dele.

Aquela quentura verdadeira no peito é a beliscada necessária na alma para indicar que há vida e energia no seu coração. É um instante, uma ruptura entre você e você. Como se alguém (ou algo) chegasse até nós e soprasse os nossos olhos e eles começassem a enxergar além. Ninguém escapa, nem mesmo os mais racionais.

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que pode gostar de alguém é traiçoeiro e fugaz 
Terno Instante

À medida que mais instantes parecidos com àquele inicial roubam-lhe a vida por outros de pura distração, mais se corre o risco de a fonte secar e de não renovar, corre-se o risco de acabar aquilo bom cuja faísca surgiu na inocência, sem muita compreensão do que era.

Pare agora, não deixe isso ruir. Como qualquer ciclo da vida, o melhor é que se renove, que tudo que morra se torne matéria prima para o novo, mas para isso não é necessário temer. Porque se você tem medo daquilo que está no seu coração, cada vez mais terá menos a oferecer ao outro com quem vislumbra construir uma relação.



  

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