23:31


Meus olhos bateram no relógio e eram 23:31. Olhei para a tela do meu celular e lembrei de que já não há mensagens ou históricos. Malmente lembranças que chegam vez ou outra, quando alguma coisa banal aponta para a existência desse tempo que já passou.

As fotografias de dois anos atrás são uma cápsula de um tempo bom que nunca mais irá voltar, do qual eu fui feliz sendo eu mesmo e de como, naquele momento, ser eu bastava. Olho os rabiscos que fiz com você ou de quando entrava, sem pedir, em minha mente. Vejo o quão era verdadeiro tudo que eu sentia e demonstrava.

Diziam que fazíamos um casal bonito, que nós nos complementávamos. Sabíamos que era verdade, contudo havia temor de sua parte em tudo se tornar realidade, por quê? Das lembranças que restaram, lembro-me da primeira vez que vimos um filme juntos. Meus olhos brilhavam, jogávamos conversa fora, falávamos de nós mesmos, ríamos.

Deste dia, a imagem que ficou é a de alguém de frente para mim com olhos grandes e de máxima atenção. Quando o filme acabou, saímos da sessão em silêncio. Eu estava pronto para viver o amor tal qual o que tínhamos acabado de assistir e sentir. Mas não foi naquele dia. Nem no dia seguinte. Nem no outro. Nunca mais vimos outro filme no mesmo lugar. E, dois anos depois, nunca mais saímos juntos. Sequer nos falamos.

O tempo passou. Crescemos, brigamos e te amei como nunca antes na vida. Assustei-me, porque me entreguei e era intenso. No entanto, este amor, que apanhou infinitas vezes, decidiu partir. Talvez tarde demais, tamanho estrago causado. Fui embora, você sequer notou. Havia em mim o medo de me libertar da esperança - que fazia crer que um dia daria uma chance a nós dois -, assim como o medo em deixar ir embora todo o amor que sentia.

"Perda de tempo", meu racional dizia. "Só mais uma tentativa", implorava o meu coração. Ambos enganados. Somente o tempo fez bem e libertou. Quando a liberdade chegou, a paz voltou. Se você me perguntar se há saudades ou esperanças, a resposta é clara e está no tamanho da minha paz. Liberdade faz um bem danado e eu aprendi a ficar bem.





  

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