Melodia desconhecida

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Fim de tarde e o sol vai dizendo até logo. Os pássaros dançam pelo céu, num vasto universo falsamente finito aos nossos olhos mortais. Livre das regras, modelos conhecidos e frustrações, todos ali. Navegam pelo espaço harmônico, como pensamentos espontâneos. Parece tudo tão belo, que sentir inveja desses que dançam tão livres numa perfeita completude, não parece um pecado.

Os galhos das árvores dançam ao som da melodia silenciosa dos ventos. No chão, as folhas secas prontas para recomeçar a vida. Num canto qualquer, um mero observador. Uma mera partícula de poeira tão invisível ao universo, quanto à poeira são aos seus olhos humanos. Eles devoram parte dessa melodia.

Os olhos percorrem distâncias que o seu corpo nunca seria capaz de percorrer. No caminho, se pergunta sobre várias coisas, principalmente as vivas. Em um dado momento, não sabe mais como chegou a tantas perguntas e como convive bem sem tantas respostas.

Por que as árvores dançam mais do que muitos humanos?

Por que o vento está frio, se o sol parece tão quente e próximo?

Por que há humanos tão frios, se no fundo a sua alma parece aquecida?

Por que o ciclo da vida é equilibrado e justo na natureza, mas na vivência em sociedades humanas não?

Sentiu várias coisas. Estava inquieto demais com o que estava sentindo. Estava inquieto com as suas dúvidas. Poderia dizer que entendia tudo, como muita gente faz, mas cansou-se da simplicidade das respostas fácies, imediatistas e compartilháveis.

A melodia é tão simples, mas há tantos outros sons silenciosos. É justamente por haver tantos sons silenciosos que ele se interessa tanto em tentar assimilar o máximo que consegue e pode ouvir.

Ele queria entender o que não sabia o que era, não sabia sequer a forma, a cor, mas sentia e queria.

Diante da melodia silenciosa, tudo girava próximo ao seu pensamento mais comum. Tudo isso fazia retornar ao seu individual, repleto dos desejos básicos, inerentes a seres de sua espécie.

No fundo foi percebendo, que só queria que este básico fosse diferente e adequado ao que precisa. Só queria que o cenário fosse cada vez mais belo, convidativo e os atores com outras formas de interpretação deste mesmo universo.

Quis entender essa completude, mas sabia que não podia. Quis arrumar a bagunça de sentidos em sua mente. Os seus olhos pareciam perder-se em meio aos próprios sentimentos. Insistia em querer entender algumas coisas, mas sabia que nada é tão imediato quanto se imagina.

Logo mais os tons rosados se tornariam tons escuros. Logo mais ele se levantaria, e continuaria a querer fazer parte desse universo. Agora com o desejo latente em ser uma nota da melodia desconhecida. Bobagem. Ele sabia que era apenas o observador e não entendia bem a sua tristeza ou a alegria em sê-lo.

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EM ALTA...