Um dia
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| foto: oticacotidiana - feita com IA |
Um dia, eu me dei conta de que estava preso. Mas não a alguém. Não a uma paixão. Estava preso… a um dia.
E por que aquele dia em específico? Porque nele, ao lado daquela pessoa, eu me sentia seguro. E uma das formas mais intensas de se apaixonar talvez tenha a ver justamente com isso: a segurança que o outro é capaz de nos transmitir. Será que isso é amor? Essa certeza de poder ser como se é?
Quando a gente se sente seguro para ser quem é, com todas as imperfeições e inseguranças, algo muito raro acontece. Ficam só você e o outro. E esse outro te escolhe, te acolhe com afeto e carinho que você literalmente se espelha no olhar do outro. Quando ele faz isso, quando ele demonstra que quer estar com você como você é, quando te olha e age como quem vê valor em cada pedaço seu, nasce uma segurança que não é superficial: é sentida por dentro. Ela deixa de ser um conceito, uma quimera e se torna uma memória viva.
Com quantas pessoas você já sentiu isso? São raras as que nos permitem baixar as barreiras da vulnerabilidade, sorrir de um jeito íntimo, deixar-se tocar pela verdade e pela incerteza.
Acho que foi por isso que fiquei preso àquele dia. Não sei se seria diferente com outra pessoa. Talvez tenha sido especificamente com você. Talvez tenha sido algo que nasceu em mim, a partir dos sinais que você me deu.
Fiquei preso àquilo por muito mais tempo do que aquelas horas propriamente vividas. Preso àquele sentimento de segurança. Àquela sensação de que: "sim, vale a pena estar aqui. Posso ser quem sou, sem disfarces". Nunca sabemos quando vai acontecer de novo, quando duas almas vão se encontrar de um jeito que nos permita nos enxergar com tanta verdade e intensidade, ainda que seja por pouco tempo e em meio às nossas diferenças.
Quando olho pra trás e vejo tudo o que foi orquestrado para aquele encontro, talvez a lição que fique clara para mim seja que, naquele momento, eu precisava me sentir seguro, e talvez você também. E quando nos cruzamos, nosso alinhamento foi perfeito.
Depois, cada um seguiu seu caminho, ainda tocados pelo que ficou. E talvez por isso eu tenha ficado preso àquele dia, àquelas horas. Talvez esse sentimento de segurança — que, no fundo, era o que eu mais desejava recuperar — tenha sido o maior gatilho para tentar de novo. Não pelo encontro em si, nem pela troca de energia, mas por aquela intimidade que você, talvez sem perceber, foi capaz de me oferecer.
Talvez nem eu soubesse, na época, que o que você estava fazendo era me dar segurança. As coisas nos tocam, e vamos vivendo e ressignificando como podemos, com nossas versões mutáveis. Nada disso anula a paixão, o desejo ou a atração: apenas se soma a tudo, completando a magia daquele momento e encontro.
Saber disso talvez me ajude a seguir em frente com menos culpa, carregando menos "e se". Você me trouxe uma segurança que é importante para mim, e reconhecer isso é uma forma de avançar, abraçando-me mais e perdoando meus tropeços nas tentativas de manter isso vivo.
No fim, está tudo bem. É mais um passo nesse aprendizado. Uma daquelas coisas que vão embora, mas também ficam, porque nos transformam. Não nos deixam mais como éramos, nem como queríamos ser.
Um dia.
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