O que perdemos?

| foto: pixabay

O enredo de nossa vida se cruzou quando nós dois nos encontramos acidentalmente. Olhei para você e nos seus olhos encontrei a sua história e o espaço para nos aproximamos. Puro encanto. Você sempre foi meio disperso e sabia que, embora estivesse aéreo, a conexão também tinha se estabelecido. Estávamos ali, nos encarando frente a frente, por alguns segundos. Te convido para entrar e, se soubesse que aquele seria um convite para vida, teria feito de uma forma diferente. Você entrou.

O tempo passou, avançamos um pouco mais. A vida é mesmo imprevisível e logo as coisas mudaram. Nosso contato enfim cessou, embora houvesse conexão suficiente para explorar os nossos sentimentos. Você teria tido medo deste encontro, ou sequer conseguiu decodificá-lo? O que perdemos?

Anos se passaram e você foi viver sua vida e eu a minha. Nunca nos esquecemos, eventualmente trocamos mensagens. Sempre existia a vontade de viver aquilo um pouco mais. Quem seria você se não tivesse desistido de nós? O que seríamos hoje, se estivéssemos ficado juntos? Vislumbres.

Sempre soube que você partiria, mas… quem hoje em dia some da vida do outro assim? Só quando há intenção. Provavelmente você teve. Por que? Porque não nós...? O tempo passou, o que aconteceu com nossos sentimentos? Anos e anos.

Como uma peça que a vida nos prega vez ou outra, numa sintonia aleatória, nos reconectamos e nos reencontramos um dia qualquer. Depois de anos, finalmente olhei você nos olhos outra vez. Encanto? Vi a mudança em vários anos. Você estava diferente, parecia ter vivido algumas outras experiências, parte de sua inocência tinha ido embora. Seria efeito dos traumas vividos em outras relações? Mesmo tendo vivido elas, no seu olhar ainda estava o medo de viver sem medo. Você já se libertou?

Foi ali que percebi que nossa história não existiria nunca. Em outras dimensões, você teve coragem de viver algo comigo e nós nos envolvemos. Nesta você decidiu viver outra história, que não foi comigo. Percebi que nunca mais iria encontrar você outra vez. Que aquele olhar e abraço de despedidas eram eternos. Nós nunca nos reencontraremos e nunca viveremos o que poderíamos viver. O que perdemos?

Fiquei pensando o quão a gente desperdiça a vida e a chance de viver boas histórias por medo do frescor de novidade que o novo carrega. Não te julgo, juro que te entendo. Mas que desperdício foi não termos construído e vivido as nossas melhores versões juntos. Como seriam?

O tempo vai seguir passando de forma indiferente. Você sempre será a minha lembrança de amor não vivido e eu serei, talvez, a sua de amor desperdiçado. Talvez ainda demore um tempo para você perceber que a sua vida quem decide é você. Decidir é um ato de coragem. Enfrentar o que precisa ser enfrentado para viver o que se quer viver, também. Eis a liberdade para sentir.

Não, você não é covarde. Você apenas precisa encontrar um lugar no mundo para se encontrar e se libertar para ser como é. Que pena não poder viver a nossa história, que pena não poder te encontrar outra vez. Aquele encontro foi o último. Que pena não poder confrontar outra vez os sentimentos por quem me conectei de forma crua e nua com o desejo.

EM ALTA...