Pontos finais*


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Às vezes nos pegamos sozinho pensando no que viveu e no que não viveu com alguém que acreditamos gostar. Neste momento, sentimos que precisamos ser fortes para as decisões que precisamos tomar, porque elas vão doer e essa dor não vai cessar da noite para o dia.

Assim, também me pego pensando no quanto esperei um sinal, o início, o sentido de correspondência que meu coração queria. Me pego lembrando de como decorei um mundo inteiro para te encaixar, sendo que você nunca existiu para esse mundo. Me pego pensando em como dói não ser correspondido nem pela terça metade dos meus sentimentos. Você sequer foi capaz de aprecia-lós.

E eu tentei, e como tentei.

Fiz de tudo para ser notado, ao mesmo tempo, fiz de tudo para não invadir espaços. Sofri escondendo e limitando sentimentos para que você não se afastasse. O que eu sinto por você, talvez, te afastaria. Você tem suas questões e eu tenho as minhas. Parte de mim sente revolta por ter que esconder tudo e por estar vivendo isso outra vez. É como se a minha experiência passada não tivesse me protegido para não sofrer novamente.

A conta chega, o peso começa a não ser suportado. É hora de encarar os fatos. Nunca vai existir nós. Nunca vai existir amor correspondido por você. O que me leva a concluir isso são os fatos. Você não faz questão de estar presente, você não faz questão de se envolver. Você está distante, não só não estamos no mesmo lugar, como também não estamos com o mesmo sentimento. Enquanto me pego pensando em como chegar até onde você está, nem que para isso precisasse viajar milhas e milhas de distância, você é indiferente a um contato meu.

Você não quer saber da minha vida. Você não quer estar presente. E aqui não me refiro a uma fusão de vidas ou a simbiose sufocante de amantes. Não é sobre isso. É sentir que há sentimento. A gente sabe quando a pessoa se importa ou não com a gente, só que dificultamos esse entendimento por achar que as coisas vão mudar. Mas elas não irão. Interesse ou amor não é sobre isso. Deveria ser proibido implorar por afeto.

Não tem como existir amor se todo meu contato é ignorado, é sempre em segundo plano. Não tem como existir afeto, se sinto que cada vez que entro em contato estou incomodando e sendo ignorado. Do que adianta mandar uma mensagem, esperar algo de volta, se se demoram dias até que eu possa ter o retorno frio e apático. Sinto a má vontade, o desprestígio e desinteresse. Isso dói, quem suporta o desprezo? Não tem como existir amor se você nunca me procura, se você nunca divide nada comigo. Não tem como existir amor se, quando digo que estou indo até você, você simplesmente faz disso como qualquer coisa, menos alegria e satisfação pela minha ação.

Não foi fácil chegar até esse lugar de desistência, muito menos indolor. Mas a desistência acabou se impondo como uma necessidade diante da realidade. Cai na real que não posso mais sentir por dois. Não posso mais esconder meus sentimentos, porque você não os quer. Não posso mais implorar por atenção de quem não me quer presente. Não mereço isso, mereço o melhor.

Amor não tem nada a ver com ser ignorado, desprezado. Não existe conquista que dure tanto tempo a essa indefinição que já está selada e fadada desde o início. Não posso mais aguentar conviver com esse sentimento. Não posso mais estar em segundo plano esperando você voltar ou apreciar o que sinto. É chegada a hora de me libertar e esse plano de liberdade não pode me tirar as coisas boas que tenho.

Não preciso me amargurar, por não ser amado por alguém que não quer nem aprecia meu amor. Não preciso ser frio com as pessoas, só porque não foram amáveis comigo. Não preciso destruir minha essência e ser duro, porque não me valorizaram como sou. Tudo que preciso é ser seletivo. Aprender a trocar sentimentos e não a querer milagres onde não há possibilidades. Não espero que um dia seja capaz de ver tudo que senti por você. Na realidade, não preciso me preocupar com o que você sente.

Vai doer, mas vai passar.

A liberdade é necessária para seguir em frente. Demorou alguns anos até aceitar que não há nada que eu possa fazer para florecer algo no seu coração. Minha única meta agora é não me amargurar enquanto sigo em frente. Nem a deixar de acreditar no amor que julgo merecer e existir. Há beleza na liberdade de se valorizar. No final das contas, só me resta aceitar me perdoando por tudo que senti e doei para o outro, e, enfim, me amar.

Tudo vai ficar bem, sempre fica.


*Parte da antologia “Aceitando o fim”

  

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