Para que serve uma desilusão?

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Não, não gosto de imaginar que minhas vulnerabilidades estão expostas para alguém que acabou de chegar. Na realidade, para ninguém. Quanto sinto que o meu pedaço mais frágil está sendo visto e passível de ser explorado por outra pessoa, não há espaço para conforto e nem para estar calmo. Contudo, a dinâmica da vulnerabilidade que é existir, sempre me mostra que para viver algo novo, é preciso deixar que essa vulnerabilidade ao menos se mostre em alguns momentos, porque é por meio delas que nos conectamos de forma única com o outro. Não pareceu nada divertido ler isso, eu sei.

No fim, temos um pouco de medo de beber de uma desilusão porque não temos ideia do que ela vai trazer de nós mesmos. Cada desilusão nos ensina algo de nós mesmos que não sabíamos que tínhamos até manifestar em uma experiência. Quando esse novo aponta em nosso horizonte, sequer conseguimos dimensionar qual o tamanho e impacto da descoberta. Muito menos no que ele será capaz de nos transformar. Imagine-se como um navegador em meio ao oceano avistando um continente após percorrer um mar de incertezas. A surpresa, a chegada, o impacto, o novo e o presente, tudo ali violentamente saltando aos seus olhos e coração. É mais ou menos assim, metaforicamente falando claro, que é avistar os efeitos de uma desilusão quando ela já está perto ou quando a gente começa a experimentá-la dentro de nosso íntimo ser.

Com os olhos cansados e lacrimejados, vivemos o cara a cara com a nova face de uma vulnerabilidade que estava ali, oculta e esperando um gatilho para mostrar-se real. A desilusão é apenas um dos infinitos gatilhos que estão embutidos em qualquer relacionamento com outro ser humano. Nos vai e vens da vida, repetições e recomeços de ciclos – que são a parte fascinante e assustadora dessa experiência de estar vivos – nos damos conta de que quando a desilusão se torna antiga, ela já não é mais motivo de dor, mas ela se converte em armadura. “Não vou me aproximar, não vou deixar me tocar outra vez”. A armadura passa a nos limitar de experimentar mostrar outras faces secretas de nossas desilusões para o outro. Como um jogo de tabuleiros, quanto mais passos à frente, mais você quer proteger o que está no fundo, escondido.

Assim, cheio de disfarces, recomeçamos a nos conectar sempre em busca de achar alguém que seja capaz de nos transformar outra vez. O que vamos descobrir de nós mesmos ao se abrir com o outro? Como disse, essa é a parte deliciosa e assustadora que é existir e se relacionar com outra pessoa.

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