Foi apenas um sonho
Ele acordara, mas sentia que precisava
continuar dormindo. No estado em que estava só o sono trazia o que precisava.
Sentiu o seu rosto úmido, constatou que havia chorado por um tempo. Levantou
instintivamente e abriu o seu armário. Numa vista panorâmica observou o espaço,
a sua cama, estantes e arranjos e agiu. Retirou o lençol e o forro de cama
daquele último dia em que se sentira bem. Sentia que precisava voltar para o
começo. Se pudesse registrar a cena que protagonizara, certamente sentiria um
remorso e pena de si mesmo por fazer algo assim: arrumou a cama do mesmo jeito,
vestiu a mesma roupa, usou o mesmo perfume e ficou a esperar o tão almejado
sonho.
Deitado de forma rígida e imóvel, numa
tentativa frustrada, como se fosse possível refazer os passos mágicos daquele
dia. Até que parou e cansou. Na verdade, ele fora vencido pelo cansaço e pela
lucidez. Talvez tenha notado como parecia morto daquele jeito. Enganou-se
esperado demais de uma expectativa, tudo foi apenas um sonho. Um único sonho.
Não daria jamais para voltar a ele. Era seu dever se conformar. Como uma poça
de água na calçada, o sonho dele já havia se secado e evaporado no tempo.
Foi durante uma das quebras de um dos sonhos
que fora percebendo os fatos. Percebeu que não havia mais condições de
continuar a sonhar com aquilo. Por mais que tenha feito bem, não podia mais. O
encanto terminou, cansara de ilusões, mentiras e pedradas. Mais do que um
cansaço físico, as suas emoções pediam o fim.
Num lapso de consciência protetora, não se
sentiu culpado por pensar assim. Havia mais do que um motivo para desistir
disso. Ele havia cansado, estava desgastado e algo havia se quebrado e não
haveria uma única forma de se reparar.
Agora, com uma perspectiva distinta levantou da
cama, retirou o resto da umidade do rosto e mudou toda a ordem protetora que
havia construído. Trocou tudo que lembrava àquele sonho. Com novas
expectativas, aos poucos se sentiu bem.
À noite chegara e ao começar a dormir, fora
interrompido no meio de mais um sonho. Agora ele já percebia tudo, todos os
detalhes, cheiros e sons: era tudo estranhamente conhecido. Respirou e pensou
em absolutamente tudo que passou nas últimas horas e dias, respondendo e se
convencendo para si e em voz alta: foi apenas um sonho, demorou, mas agora estou
acordando.
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