O adeus
Sabemos que ela
chegará a qualquer momento, mas a surpresa será sempre inerente. Resistimos a
acreditar até sentirmos o seu peso, até lá nos anestesiamos sem mensurar que a
qualquer momento, o sentimento será real. Pensamos em tudo, mas quando é nela,
já não há tanta abertura e vontade de falar. É difícil para todos nós
imaginarmos que alguém ou algo que amamos, um dia não vão mais estar conosco.
Pelo menos não da forma em que estamos acostumados.
Desde sempre
aprendemos a conviver com o medo, que se atenua em diversos estágios da vida.
Ouvimos quando criança, que nossos pais podem partir a qualquer momento, que
nosso animal de estimação não será para sempre, a professora que lhe ensinou os
conceitos básicos também, e nem nós mesmos. Desde já se instauram cargas de
sentimentos, só de imaginar vivermos tais situações. Quando tudo acontece, é sempre
o inacreditável. Inacreditável, porque nunca esperamos. A não ser quando se tem
um ente querido em estado grave.
Todos
boquiabertos, paralisados, olhares tão distantes de tudo e de todos fitados
somente naquele momento sempre repentino, indesejado e triste. Não se raciocina
muito bem, apenas o corpo e a alma ilustram o que se sente. Tudo funciona em um
ritmo singular. Talvez seja uma das demonstrações mais claras do quão como
somos imprevisíveis e vulneráveis.
É a única certeza
que temos na vida. Iguala classes, etnias, sexos, anônimos e celebridades.
Viemos de um lugar, e partimos para outro que não se sabe onde é. Só temos a
certeza de que partiremos, pelo menos do plano visível e material, porque nas
lembranças individuais nada desaparece por completo.
E a dor? A dor
insuportável, dura e tão avassaladora. Péssimo só de imaginar, mais ainda
quando se sente. Algumas pessoas conseguem superar, outras não. Outras conseguem
superar a dor de maneira rápida, voltando a sua vida normal, conhecendo novas pessoas, desabafando, tentando e
acreditando que estão vivendo e que a vida precisa continuar. Ela continuará de
fato, mas a nossa percepção desse ritmo irá variar.
No fundo
acabamos constando que há água em uma fonte dentro de nós mesmos, e muitas
vezes não sabemos. Na água há a força para superar tudo, e se adaptar ao novo e
a uma nova realidade, de maneira muito mais confortável. Para beber desta água
às vezes penamos como os que vivem em um deserto ou na seca. A dificuldade é
grande, mas quando se encontra e bebe tudo muda. Na grande maioria das vezes
para melhor. A descoberta dessa fonte também é imprevisível e subjetiva. Tudo
em seu tempo.
A certeza de que
nada é para sempre, talvez incomode os homens, já que aí entram muitos
sentimentos, desde o mais explícito aos mais ocultos possível. Tudo isso porque
estamos falando de sentimentos que vão além da compreensão de qualquer ser
vivente. São únicos, são nossos, e só as nossas dimensões pessoais interpretam
o momento do adeus.
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